Luto: o que é, funcionamento e superação

Por Psicanalise Clínica

 

Neste trabalho iremos abordar sobre o que é luto na visão da psicanálise, qual o entendimento dos pesquisadores, quais suas visões, e claro qual método eles buscam para o tratamento ou modificação do sintoma voltado ao Luto.

Iremos ver também, sobre o luto, como afeta o emocional, o dia a dia, o passado, o presente e o futuro do analisando, este que para evolução, primeiro precisa da compreensão e assim caminhar para solução. Buscando entender também, que o luto, ele tem suas fases e suas etapas, estas que o tempo de duração varia de pessoa para pessoa, porém, todas pessoas enlutadas devem passar por todas fases, sem pular nenhuma delas, e isso faz parte do processo de cura ou modificação do sintoma.

Compreender que o luto, é a saudade de momento, são sentimentos bons que ali foram encerrados, amor por alguém que já não se vive mais ao lado, pois o luto não esta relacionado a morte apenas, e sim a todas separações que causam no ser humano a interrupção de um vinculo e de um convívio no qual existia e não existe mais. E por fim, vamos ver como a psicanálise pode modificar e buscar a cura deste sintoma, trazendo uma melhor qualidade de vida ao analisando, para que ele tenha compreensão do que esta vivenciando e como vivenciar novos momentos dali em diante.

O que é o luto?

O luto é o processo pelo qual o ser humano passa quando vive o vazio ou ausência em razão de uma perda. Esta perda pode ser por um sentimento que nutria em uma relação afetiva, uma rotina, um laço de amizade ou um laço familiar. O afeto vinculado ao luto manifesta esta perda, não necessariamente significa a morte de uma pessoa. O luto pode ocorrer por pessoas, por animais, por um emprego, por perda de saúde, mudança e até mesmo por ausência de objetos, nos quais relacionam algum apego sentimental.

O luto pode ocorrer por qualquer motivo que traga o rompimento desta vivência, deixando um vazio e uma ausência.

Muitas vezes, o luto é acompanhado da ambivalência entre amor e ódio, isto é, a pessoa enlutada se culpa por alguma vez ter tido algum comportamento agressivo ou prejudicial à pessoa ou objeto ausente.

Vamos entender melhor como o luto e suas formas atingem o ser humano.

O Luto, faz com que a pessoa, precise se reestabilizar a uma nova rotina, a uma nova vida, com vínculos diferentes, com pessoas diferentes, com sentimentos diferentes, e isso gera na pessoa um medo, uma angústia, um desespero, a incerteza do amanha, gera duvidas sobre sua capacidade de vencer, e algumas das vezes ocorre da pessoa passar por isso sozinha sem nenhum apoio ou entendimento do que esta se passando naquele momento e como superar. Este é um processo natural, quando ocorre o rompimento de um vínculo no qual estava acostumado ou em sua rotina, mas a readaptação a uma nova realidade ela vem repleta de incertezas, na qual precisa de calma para evolução e cura. Quando estamos de luto, os sentimentos que nos perseguem são:

  1. Tristeza;
  2. Raiva;
  3. Culpa;
  4. Fadiga;
  5. Ansiedade;
  6. Solidão;
  7. Fraqueza;
  8. Déficit na memória;
  9. Alteração de apetite;
  10. Aumento ou perda de Fé;
  11. Isolamento e sentimento de não merecimento daquela dor.

Estes sentimentos, se mistura, junto a duvidas e desespero, que precisa de tempo para que ocorra a evolução gradual de cada um. Para psicanálise, o Luto, ele tem período de duração de 1 (um) ano, passando por todas fases, sem nenhum bloqueio.

O que significa luto para Freud

Sigmund Freud entende que o Luto pode ser superado após um determinado tempo, sendo que não deve ocorrer nenhum interferência, sendo esta prejudicial para sua evolução. Vendo que para o enlutado, o mundo se torna um grande vazio, tendo um desânimo profundo na realizações das coisas, sem interesse pelo mundo, inclusive ocorre perda de vontade de amar um outro. Ele associa o luto a melancia, esta que tem vinculo direto, aos sintomas do luto.

O melancólico tem um sentimento que se deprecia sozinho, ocorrendo um distúrbio de sua auto estima, inclusive Freud afirma que no estado de luto, o analisando retorna ao estado narcisismo primário, tendo uma ligação direta com o interminável, ligação que não rompe com o objeto ou pessoa perdida.

Sendo um processo lento e doloroso para o analisando, tendo uma tristeza profunda, gerando um afastamento total, de pessoas, de rotina, de lugares, do próprio eu, sem nenhum interesse ao mundo externo, se fechando no seu mundo interno. Freud, inclusive, afirma que o ato de nascer gerando uma separação ali da mãe, sendo o primeiro luto então vivido por todos seres humanos. Isso está ligado diretamente a catexia de anseio. Após isso Freud, afirma que um passo importante é quando ocorre a ansiedade de castração, ocorrendo então na fase fálica, gerando o medo da separação de algo que considera muito valioso, no caso falamos no pênis.

Entendendo que com a evolução do tempo, e amadurecimento do EGO, as situações de perdas antigas, são sendo libertadas e modificadas. Quando o Ego está ligado ao processo de luto, entende-se que, por cuidado e forma de defesa, ocorre uma diminuição ou empobrecimento da energia, para que esta não se volte de forma negativa e prejudique ainda mais o analisando.

Entendendo quais são as fases do luto

As fases do luto são cinco:

  • Negação, 
  • Raiva (ou revolta), 
  • Barganha (ou compensação), 
  • Depressão e 
  • Aceitação.

O luto passa por suas fases, que seria a evolução deste processo, uma fase finalizada é o sinal que a evolução está sendo progressiva, em busca da cura ou modificação do sintoma.

Vamos falar um pouco sobre cada uma delas, estas que são vivências num processo de 1 ano.

Fase de Negação

Esta fase entendemos que é a defesa psíquica com a perda, onde o analisando nega a perda, finge nunca ter vivencia tal situação, buscando fugir ou desviar do assunto, quando coloca em pauta. Nesta fase, o analisando permanece na mesma rotina, sem nenhuma alteração, provando a si mesmo que o fato de separação ou perda não ocorreu, como se ainda vivesse como antes.

Sendo vista como forma de defesa para evitar o sofrimento. Nesta fase, normalmente o analisando foge do convívio com os demais. Esta fase, geralmente dura pouco tempo, porém pode aparecer em outros momentos, é uma fase que pode retornar ao processo de luto.

Fase da Raiva ou Revolta

Esta fase pode perdurar desde o início, nas primeiras semanas até seis meses de luto, o enlutado fica revoltado e não se conforma com a situação enfrentada. Nesta fase, é como choros, alteração de apetite, que seu sono tenha descontrole. Podendo ter revolta contra si mesmo inclusive, e até mesmo contra fé e Deus.

Fase da Barganha ou Compensação

Nesta fase, ocorre um tipo de negociação, com a situação, do tipo, busca com Deus alguma troca, um tipo de negociação, que mostre um lado “positivo”, ou menos negativo.

Esta fase tem uma curta duração.

Fase da Depressão

Aqui é o retorno à realidade, e nesta acaba encarando um grande vazio a realidade existente, onde surge o entendimento e a verdade sobre o que ocorreu. Uma tristeza profunda e se isolar, são comuns nesta fase. Entende que a perda ocorre de forma inevitável. Esta fase ocorre muitos porquês, muitos choros.

Fase da Aceitação

Esta é a última fase, onde a realidade vivida é aceita e compreendida e se consegue entender sem nenhum sofrimento ou desespero. Encara a realidade, e entende que era necessário ou inevitável tudo o que ocorreu e inicia sua vida em paz, sem entendimento do ocorrido. Esta fase depois de todas vivenciadas, ela perdura para o sempre, pode ter recaídas sim, mas são momentâneas e passageiras.

A Psique humana e o que é luto

Portando, as fases do luto, todas elas, têm sua extrema importância a psique humana, e contribuição para cada vivência, é importante que não se pule nenhuma delas, pois passar por elas é necessário e inevitável para melhor compreensão e entendimento do que ocorre e assim para uma melhor vivência, e claro não ocorrer nenhum sintomas reprimido. Quando ocorre o fato de não vivenciar uma fase ou pular uma fase do luto, acontece o recalque e este impede as demais fases ocorrerem da forma correta e adequada.

Quando ocorre o recalcamento de alguma fase, é necessário de acompanhamento de analista para que libere esta fase recalcado e liberar a situação não vivida na qual impede uma vida sem conflito. O grande ponto para o sofrimento do luto, é o fato de que nós não estamos preparados para aceitar de forma harmoniosa e feliz a separação, a morte, o rompimento ou desligamento de algo ou alguém, então, em nosso EGO, já está armazenado que isso é uma forma de dor, sofrimento, desespero, sendo ativado quando este tipo de situação ocorre, pois quando estamos habituados com algo ou com alguém, sonhamos com o futuro, fazemos planos, estes que com o rompimento do vínculo, faz com que entendemos um bloqueio de futuro, sem rumo para um novo dia.

Processo de elaboração do LUTO

O luto se instala na psique humana através de uma perda, este está ligado ao desligamento do libido as lembranças existidas e com relação a expectativas criadas pela pessoa, objetivo ali rompido o vínculo. Ocorrendo a existência de uma catexia que se concentra no objeto/pessoa perdida, na qual remete sentimento de falta/saudade e para que não ocorra o apaziguamento, temos a hipercatexia, para que então tenhamos a constatação da perda, uma afirmação do fato ocorrido.

O EGO, precisa ser preservado, e por isso, ocorre uma adiantamento de prazer, adiar a satisfação que tinha no objeto/pessoa,, sendo os instintos sexuais os mais difíceis de lidar. Para que o analisando tenha capacidade e se relacionar com o mundo, ele precisa distinguir o que está passando em seu ser externo e em seu ser interno, sendo um teste de realidade, e muitas vezes neste teste de realidade, existem muitas dúvidas, mas precisa compreender que seu destino não será o mesmo do objeto/pessoa perdida.

Para isso, precisa ter a total compreensão do que é real, e do que não é real, para que desta forma, o analisando tenha sua vida plena, sem interferência, e claro passando e vivenciando cada fazer necessária ao momento luto.

Tratamento do Luto com psicanálise

A cura do luto, primeiramente é preciso que seja compreendido todo sistema e toda colocação das fases vivida pela pessoa, esta que precisam ser vividas de forma pessoal, individual e sem pular etapas. A psicanálise, entende que o luto, tem duração de aproximadamente 1 ano, este que pode ser um pouco menos ou um pouco mais, varia muito de cada evolução e cada analisando com sua forma de lidar com a tal perda, inclusive algo que influencia, são suas crenças, sua criação, e até mesmo o fato da perda de convívio com um alguém, mas sempre ter contato, de uma forma diferente, isso dificulta muito o processo de compreensão e aceitação.

O luto, primeiro precisa ser compreendido e aceito, para que possa ser direcionado a cura, fazendo com que o analisando olhe para o seu eu interior e entenda tudo que ali está acontecendo. Sem pressa, sem desespero, e com calma para melhor resultado. Muitas vezes a cura, não vem apenas em aceitar a luto, e sim em se colocar em uma nova etapa da vida,

Como exemplo, quando falamos em perda materna, perda da mãe, o analisando, além de perder a figura materna, perde sua referência como filho, pois se perde mãe, muitos têm a compreensão que não se é mais filho, mas que na verdade isso é um fator psicológico, e que o analisando continua sendo filho, mas de uma forma diferente, forma esta em que a presença materna não está mais viva fisicamente, mas está viva nas memórias, nas saudades, na história de vida.

Conclusão

O processo se superação do luto, muitos se fecham e ficam sozinhos, mas nem sempre deve ser vivenciado de forma solitária, isso porque falar, um ombro amigo, e até mesmo a associação livre é muito importante para que esse processo todo seja compreendido e em busca da cura do sintoma.

Entende a psicanálise, inclusive, quando não vivenciado de forma correta e adequada o luto, este pode retornar de forma negativa ao analisando, como por exemplo, por surtos psicóticos, por isso a importância da vivência correta.

O luto tem cura, se quando vivido de forma sem pular fases e etapas, se entende que foi curado sem ajuda de análise, quando se pula fases, quando se recalca algum sentimento ou fase, ou quando este luto retorna de forma negativa, este precisa buscar uma análise, e assim em busca da cura ou do sintoma ali reprimido.

Referências bibliográficas

Blog Psicanálise Clínica. Conceito de Psicanálise. [Online]. Disponível em: <www.psicanaliseclinica.com/conceito-psicanalise/ >. Acesso em: abr. 2018.

https://zenklub.com.br/blog/saude-bem-estar/luto/ Ariès, P. (1977a). O homem diante da morte. Rio de Janeiro: Francisco Alves (2003b).

Educação para morte: desafio na formação de profissionais de saúde e educação. São Paulo: Fapesp; Casa do Psicólogo Kübler-Ross, E. (1969).

Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Edart. Freud, S. (1917) Luto e Melancolia. São Paulo: Cosac Naify Alouch, J. (2004)

Este texto sobre o que é luto segundo a Psicanálise sintetiza o significado, conceito e definição de luto para Freud e a Psicanálise; foi escrito pela autora Fernanda Biffani Cordeiro.

 

https://www.psicanaliseclinica.com/luto-o-que-e/

 

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