Fragilizadas, pessoas em luto correm risco de depressão e merecem cuidado

Por Correio Brasiliense

Psicoterapia pode reduzir a chance de doenças psicológicas durante o período do luto, dizem cientistas

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Atravessar o luto é uma tarefa que pode ser mais longa e difícil para algumas pessoas. Casos de suicídio e de surgimento de doenças psicológicas não são incomuns. Em um estudo comparativo, cientistas dinamarqueses descobriram que a psicoterapia pode reduzir a chance de essas complicações ocorrerem.

A análise foi feita com base em registros de dados de saúde de mais de 5 milhões de indivíduos, recolhidos durante 1996 e 2013. Os pesquisadores deram foco especial a 207 mil pessoas que experimentaram problemas psicológicos durante o período de luto. Em uma filtragem ainda maior, separaram 4.584 pacientes que, entre seis meses e dois anos após a morte de alguém próximo, houve caso de suicídio, automutilação ou internação em uma enfermaria psiquiátrica.

Por meio de análises comparativas, os pesquisadores concluíram que, nesse grupo, o risco de ocorrência dessas complicações  foi de 9,1% quando a pessoas que foram medicadas para enfrentar o luto. No caso dos apoiados pela psicoterapia, a taxa caiu para 3,2%. “O estudo mostra que os pacientes cujos clínicos gerais costumam usar a terapia da fala têm um menor risco de suicídio e de outros distúrbios psicológicos”, ressalta Morten Fenger-Grøn, pesquisador da Universidade de Aarhus e um dos autores do estudo, publicado, em setembro, na revista especializada Clinical Epidemiology.
Os cientistas ressaltam que a pesquisa não defende o fim do uso de medicamentos, mas mostra que conversas com especialistas podem contribuir consideravelmente para a saúde de pessoas que passam pelo luto, e que, quanto mais cedo essa intervenção for feita, mais positivos podem ser os resultados.
“Nosso estudo documenta a importância de os médicos terem outros meios de ajuda, além de prescrições. Sugerem que a intervenção precoce pode prevenir sérios eventos psiquiátricos. Infelizmente, o estudo não pode nos informar a forma mais efetiva de terapia ou se os clínicos gerais estão bem preparados para a tarefa, mas parece que ter tempo para conversar com o paciente funciona”, complementa Fenger-Grøn.

Ajuda institucionalizada

Para o psicólogo clínico Carlos Alexandre Araújo Benicio, o estudo dinamarquês mostra o quanto a psicoterapia pode ser positiva para pessoas que atravessam o luto. “Ela mostra como as terapias de fala contribuem para reduzir um sofrimento emocional que poderia seria prolongado e, consequentemente, ajudam a diminuir pensamentos (ideações) e ações (comportamentos) que conduzem ao ato suicida, uma vez que pessoas enlutadas apresentam risco particularmente alto de comportamento suicida e de doença psiquiátrica”, explica.
Segundo o especialista, os dados chamam a atenção para a necessidade de se garantir que os serviços de saúde promovam espaços de fala e de expressão da subjetividade, como também de ajudar as pessoas em sofrimento a desenvolver redes de apoio. “A promoção dessas ações pode ser uma abordagem frutífera para minimizar processos vivenciais negativos. Para se evitar o agravamento de alguns transtorno mentais, é importante que se dê ênfase aos aspectos de caráter preventivo e à utilização de estratégias de intervenção precoce em saúde mental”, diz.
Carlos Alexandre Araújo Benicio chama a atenção ainda para a importância de abordagens além das esferas mais íntimas. “Faz-se fundamental ainda a sensibilização das esferas governamentais com vistas à necessária destinação de recursos orçamentários às políticas públicas de atenção primária em saúde”, defende. (VS)

9,1% 

Risco de ocorrência de suicídio ou internamento psiquiátrico em pessoas que são medicadas para enfrentar o luto
3,2% 
Risco de ocorrência de suicídio ou internamento psiquiátrico em pessoas que recorrem à psicoterapia para enfrentar o luto
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