Novo normal ou normal de novo?

Por Reinaldo Cafeo para JCNet

Sem dúvida alguma a pandemia do novo coronavírus, a Covid-19, impactou e vem impactando a vida das pessoas, tanto no âmbito pessoal, como profissional. O isolamento e distanciamento social, os trabalhos remotos e proibição em atender ao público para alguns setores da economia e os protocolos de convivência, mexeram e mexem com o cotidiano de todos.

Neste contexto, a expressão “novo normal” tem sido muito utilizada. Muitos entendem que as coisas daqui para frente não serão mais como eram antes da pandemia. A reflexão é: será mesmo que teremos um novo normal ou será o normal de novo? A meu ver a resposta é: teremos um pouco de cada coisa.

Este novo normal se justifica em função do uso da tecnologia. Até mesmo as camadas mais humildes da população de alguma maneira estão experimentando a interação a distância. Escolas, empresas, setor público, religiões, enfim, quase todos os segmentos da sociedade se deram conta que é possível sim produzir sem necessariamente ter o presencial. Muita gente pretende continuar operando a distância, evidentemente quando a atividade permite, e até mesmo núcleos familiares observaram que estas novas tecnologias aproximam os distantes (apesar de as vezes distanciar os próximos). Redução de custos de deslocamento, reuniões mais objetivas, conforto nas residências, enfim, uma série de mudanças comportamentais vieram para ficar, representando este novo normal.

Apesar desta constatação a história indica que, quando as crises passam há uma tendência de as pessoas voltarem ao estado anterior a crise. Tomemos como exemplo o mundo das finanças. Ocorreram bolhas de ganhos em determinados ativos financeiros, em seguida as bolhas passam, muita gente perdeu dinheiro, mas algum tempo depois, outras bolhas nascem, e muita gente volta a apostar nas mesmas, e novamente perdem dinheiro. Voltaram a praticar o normal de novo.

Muitos empreendedores entraram por necessidade no mundo virtual, mas ali na frente, quando tudo isso passar, boa parte tenderá a voltar a focar nas vendas presenciais. Muitos que experimentaram, por exemplo, o ensino a distância, também quando as coisas voltarem ao normal, tendem a questionar a efetividade desta forma de ensino. Independentemente de termos o novo normal ou o normal de novo, é certo que a dimensão desta pandemia nos tocará na alma, e a tendência, reforço, tendência, é que ocorram importantes mudanças do seio da sociedade e especial nos agentes econômicos.

O que não podemos deixar de considerar é: a única certeza é que as coisas mudarão, se isso já era verdadeiro antes da pandemia, agora é mais ainda. Estar aberto as mudanças é ser sábio. Que venham tanto o novo normal como o normal de novo, pois muitos estarão muito mais bem preparados para enfrentar tudo e todos.

 O autor é economista, presidente da Acib

Leia a publicação original aqui.

Compartilhe