Superação do luto é variável e não deve ser pressionada, alerta psicóloga
Por Caroline Paulart para Folha de Campo Largo
Psicóloga explica que passar por um luto gera amadurecimento e pode mudar a percepção da vida. Também fala sobre a necessidade do amor e a dedicação da família e amigos que têm algum ente querido em estágio terminal
O luto é um momento que ninguém quer passar, mas todo mundo irá se deparar ao longo da vida. Na última sexta-feira (02), aconteceu o Dia de Finados, um momento para lembranças e reflexões sobre o processo de luto, que pode envolver desde a morte de um familiar ou amigo muito próximo, até mesmo mudanças repentinas ou bruscas de vida.
De frente com a morte
A psicóloga e terapeuta do luto, Mirella Carletto Silva, explica que o luto diante de uma morte pode acontecer de duas formas: a primeira o luto antecipatório, quando a família já espera a morte daquela pessoa e já está preparada; e o luto de forma traumática, que segundo ela, pode ser um dos mais difíceis de superar. “Quando a pessoa passa por uma doença, por mais que você não pense diretamente na morte, você tem aquele sentimento latente de que vai perder aquela pessoa. É algo que sua mente vai trabalhando para que, quando você receba uma notícia dessas, esteja um pouco mais confortado. Não que essa forma de perder um ente querido não seja traumática, de forma alguma, é tanto quanto, pois você, muitas vezes, acompanha o sofrimento dela. A diferença é que o luto em uma forma traumática, em um acidente, por exemplo, que você não espera perder aquela pessoa, pois em geral ela está bem, com saúde, e acontece alguma tragédia.”
A partir do momento em que se recebe a notícia do falecimento começam os famosos cinco estágios do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Na negação acontece o estágio da não aceitação seguido da raiva, que pode até mesmo envolver a agressividade. No estágio da barganha, a pessoa tenta argumentar, surge aquela necessidade de fazer algo em troca para trazer de volta aquela pessoa. Na depressão surge a tristeza, angústia, a sensação de falta de forças para conseguir se reerguer. A aceitação é o momento que a pessoa consegue voltar a ter qualidade de vida, a superação do fato.
“É aqui que precisamos respeitar a individualidade de cada um. Muitas pessoas têm mais dificuldade de passar por essas fases, ficando até mesmo ‘presas’ em alguma delas. O mais comum é a depressão. Não podemos forçar ela a superar a tristeza ou achar que é falta de vontade. Esse sentimento pode abrir espaço para doenças mentais mais sérias, por isso o amor e o cuidado com aquela pessoa é essencial”, diz.
Algumas vezes, por ser uma perda tão traumática, que provocou uma dor intensa, a pessoa pode esquecer daquele dia, isso pode prejudicar a travessia do luto. Por isso aconselha-se que a terapia seja feita para que o processo seja superado.
Em contrapartida, a psicóloga salienta que é preciso mexer nos pertences, ver fotos, vídeos, ir até determinados locais – que ela gostava de frequentar ou até mesmo onde faleceu – para que possa superar a dor. “Muita gente pensa que poupando aquela pessoa de fazer essas coisas fará com que ela sofra menos ou supere mais rápido, mas não. Você não deve esquecer daquela pessoa, você precisa superar o falecimento dela, isso inclui chorar muito, às vezes dar muita risada com as lembranças, poder recuperar sua vida, passear, fazer compras, sem se sentir culpado. Nunca haverá substituição ou esquecimento, apenas a saudade e aceitação que essa situação não pode mais ser mudada, mas que você merece ser feliz”, explica.
Segundo ela, algumas práticas podem ajudar no conforto, como costumes religiosos, a própria fé, leituras sobre o tema, rituais, entre outros.
Perda de um filho
Em unanimidade, segundo Mirella, a dor de perder um filho é a mais difícil de ser superada. “Esta situação é bastante complicada, pois é muito complicado ter que passar pela perda de uma pessoa que você gerou e ofereceu o amor de pai ou mãe. Muitos casais às vezes se separam, mas é importante que eles fiquem juntos – mesmo que não casados – para dar suporte um ao outro. Mesmo ambos tendo o amor de pais, pai e mãe reagirão de forma diferentes frente a essa perda. A união é fundamental”, ressalta.
“Não se culpe, ou não pense que se tivesse feito algo diferente o resultado seria outro. Nem sempre é assim. A morte é algo que acontece com todos, infelizmente, desde bebês, crianças, adolescentes, jovens, adultos, cabe a nós buscarmos ajuda para superar uma perda tão dolorosa quanto esta”, diz.
Como contar às crianças?
Segundo Mirella, a sinceridade é primordial com as crianças. “Elas precisam passar pelo luto também, por menores que sejam, elas conseguem entender que aquela pessoa não volta mais. Por isso, aconselhamos que elas sejam levadas aos velórios, cemitérios, pois no futuro, quando precisarem passar por isso, terão uma maturidade emocional maior. Não fale que a pessoa foi viajar, pois quem viaja, um dia volta e ela vai ficar esperando. Não seria justo com os sentimentos dela fazer algo do tipo”, salienta.
Estágio terminal
Mesmo quando a morte parece algo iminente, é preciso ter cuidado para não sofrer por antecipação. “O estágio terminal é algo complicado, porque fica aquela sensação de que qualquer coisa que a pessoa esteja sentindo já está se aproximando da hora da morte. Cada vez que o telefone toca, será essa a notícia. Isso gera uma ansiedade muito grande na família e no próprio paciente, culminando em estresse. O ideal é cercar aquela pessoa com muito carinho, aproveitar para fazer com ela o que ela gosta, conversar bastante e dar muita atenção. Por mais difícil que seja, tente não pensar na morte”, aconselha.
Na dor, o amadurecimento
Independente de qual seja a perda, o fato é que atravessar um luto traz um grande amadurecimento. “Quando estamos diante da morte refletimos mais, pois temos consciência que a vida é muito curta, como dizem ‘um sopro’, e não é feita somente de alegrias. É momento de repensar também sobre a sua própria”, finaliza.
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