Enquanto vivemos nossas vidas, modificadas pela realidade que enfrentamos neste momento, existem muitas pessoas que estão vivendo situações impensáveis e de estrema dor. De forma abrupta, perderam parentes, amigos, enfim, pessoas queridas foram embora.
Quando nos deparamos com os números diários descritos nos jornais, parece que ficamos anestesiados e consequentemente com dificuldades de entender o que estes dados realmente querem nos dizer. Sim, os números são reais e expressam a dor de milhares de pessoas. Para cada pessoa que se foi, existem muitas ao redor que sofrem, que estão impossibilitadas de experienciarem sua dor. Não tiveram despedidas, não tiveram velórios, não tiveram rituais de passagem.
Sabemos o quanto precisamos de tempo para elaborar as dores da perda de um ente ou amigo querido, e da maneira com que as despedidas estão ocorrendo neste momento, as fases de elaboração do luto ficam ainda mais difíceis de acontecerem.
A realidade do luto é um processo lento e doloroso, que tem como característica uma tristeza profunda, o afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o ente perdido, e que nos traz um sentimento de perda de interesse momentâneo pelo mundo externo, pois tudo nos lembra aquele que se foi. Somos invadidos por sentimentos ambivalentes, e diante da falta, a lembrança torna-se ainda mais viva e constante, paramos tudo!
Virtualmente temos visto muitas celebrações que ajudam a vivenciarmos estas perdas, e de alguma forma experimentamos o acalento que nosso coração espera e necessita. Ainda que seja nova esta experiência, vemos nesta maneira inédita, uma forma possível de nos conectarmos com os amigos e parentes que ficaram, para nos conectarmos com quem nos deixou, abrindo em nós a possibilidade de expressarmos nossos sentimentos diante da dor, dando novo sentido ao Amor que sentíamos por aqueles que se foram.
Viver a dor é uma atividade extremamente necessária para a passagem de sentido que precisamos na elaboração do luto, e quando conseguimos viver esta experiência, conseguimos de alguma forma também nos conectarmos com as experiências de Amor que tivemos com o ente querido. Estas são as formas possíveis que temos no momento para nos despedirmos de quem se foi. Ouvir as músicas dos músicos que se foram, fazer o bolo daquelas cozinheiras que se foram, prestar homenagens virtuais a quem se foi.
Estas pessoas não podem ficar esquecidas, merecem ser eternizadas no Amor! Este texto foi escrito ao som da música: Resposta ao tempo, de Aldir Blanc.
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