Psicólogos explicam como falar sobre luto com crianças
Por Diário do Nordeste
Processo de elaboração dos sentimentos após a morte de um ente querido pode ser atravessado com menos sofrimento a partir de acolhimento familiar, livre expressão de emoções e inclusão em rituais como velórios, enterros ou despedidas
A perda de alguém próximo não é fácil para ninguém. Lidar com a saudade, com a angústia da falta daquela presença e com a finitude da existência humana quando uma pessoa morre é algo que todos devem passar. Enfrentar o luto pode ser sinônimo de sofrimento e dor para alguns. Para as crianças, o processo tem particularidades, mas não é tão diferente do que adultos têm de encarar. Viver este momento tendo proximidade com a família, recebendo apoio e acolhimento para as emoções e sendo encorajados a expressar os sentimentos pode ser decisivo para que os pequenos compreendam a situação.
Para a psicóloga Fernanda Gomes Lopes, as famílias têm a tendência de excluir as crianças de rituais como velórios ou enterros com o objetivo de poupá-las do sofrimento, subestimando a capacidade delas de compreender. “Elas sentem que [os adultos] estão tristes, sentem que estão diferentes, que algo mudou. A ideia é que a família inclua a criança no que está acontecendo”, diz. Falar da morte e da dor que os familiares estão sentindo é essencial para que elas entendam o processo do luto. “Quando o adulto compartilha que ele também sente dor, ele permite que a criança sinta. Você pode incentivar que ela expresse, mas ela também aprende pelo exemplo. Se você esconde, de certa forma ensina ela a esconder o que sente”.
Essa inclusão da criança não deve ser apenas no momento em que o ente querido morre. A psicóloga dá o exemplo da pandemia do coronavírus, quando pessoas ficam doentes por um tempo antes de vir a óbito. Ela explica que é preciso explicar passo a passo do estado de saúde do familiar para a criança também, para caso a morte aconteça ela não pareça súbita, o que pode desencadear ainda mais um sentimento de abandono ou incompreensão. “Se o óbito vier a acontecer, a criança foi aos poucos se preparando para esse processo”.
Ajuda para expressar
Conteúdos de livros e filmes que falam sobre morte podem ser aliados na hora de conversar com as crianças sobre o luto. Fernanda indica que os pais se aproximem da linguagem das crianças utilizando personagens que elas gostem ou até mesmo a morte de uma planta ou animal de estimação. A profissional também atenta para a utilização de termos acessíveis e objetivos. Usar eufemismos como “Deus levou” ou “Ele foi para uma longa viagem” podem deixá-las confusas e ansiosas por não entender a causa da ausência. Após participar de rituais do luto, é importante perguntar se a criança entendeu e ter paciência para explicar novamente caso ela tenha perguntas.
Diferentes reações
Tristeza e saudade podem não ser as únicas emoções sentidas e expressadas pelas crianças durante o luto. É natural que no processo também haja raiva, culpa, irritabilidade ou até mesmo agressividade. Fernanda conta que algumas podem ter episódios de fazer xixi na cama, prender as fezes e se comportem de maneira mais infantilizada. No entanto, a especialista atenta para a importância da família acolher os sentimentos e se manter próxima. Apesar de não ter uma data limite para acabar, já que cada um processa a morte de forma particular, se os adultos percebem que o estresse emocional dura muito tempo ou tem consequências significativas no comportamento da criança, talvez seja preciso buscar ajuda psicológica especializada.
Ebook gratuito sobre luto
Pensando em divulgar informações de como conversar com crianças sobre o luto de forma saudável e sensível, Fernanda, juntamente com a também psicóloga Maria Juliana Lima, escreveram um ebook. O livro eletrônico é disponibilizado gratuitamente pela editora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a EdUece, em parceria com a instituição Escutha Psicologia e Saúde, dirigida por Fernanda. A publicação “Como comunicar às crianças a morte de um ente querido por covid-19?” fala sobre o processo de luto, dá dicas de como conduzir diálogos e orienta cuidados a médio e longo prazo.
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