Por Diário de Pernambuco
Para muitos, como um ritual, o velório, o sepultamento e as cerimônias religiosas de passagem são momentos da despedida definitiva de seus entes. E neste momento de pandemia, com todas as formalidades alteradas, além da dor da perda, o impedimento destas formalidades podem despertar ainda mais sofrimento e dor. Mas como lidar com mais essas mudanças? “Retomar a rotina e viver junto aos que ainda estão à sua volta pode parecer uma missão difícil para quem está vivenciando o luto, mas alcançar a resiliência é fundamental para atravessar este processo”, explica o psicanalista Glauco Guedes.
Para Glauco, independentemente da crença, o protocolo de despedir-se de pessoas próximas após a morte, para a grande maioria, é fundamental para a concretização da separação. No Brasil, já são mais de 160 mil mortos pela Covid-19. Este número, multiplicado por, no mínimo, três ou quatro pessoas, entre mães, pais, filhos, parentes e amigos próximos, o número de pessoas diretamente atingidas com este distanciamento pode ser gigantesco. “Reunir-se com as pessoas mais próximas nesses rituais é uma forma de compartilhar o sofrimento e torná-lo mais leve. Lidar com a crise da separação de pessoas significativas requer amparo da rede de apoio do enlutado”, aponta o especialista.
Velórios e cerimônias foram suspensos desde o início da pandemia, no último mês de março. Em casos de suspeita ou confirmação da Covid-19, o caixão passou a ser totalmente lacrado e levado diretamente ao túmulo ou local de cremação. “Mesmo sendo um momento de profunda angústia, o luto pode, sim, ser saudável, pois ele é uma reação normal e, até certo ponto, pode e deve ser sentido a fim de que a pessoa que sofreu a perda chegue enfim na fase de aceitação. O momento também pode ser avaliado como ponte para o amadurecimento do luto.”, conclui.
As medidas para contenção a disseminação do vírus que impediram esse ritual de passagem podem provocar sérios danos à saúde mental do indivíduo, alerta Glauco. “Mesmo antes de ter início a pandemia, a OMS [Organização Mundial de Saúde] já alertava sobre os impactos da depressão em todo o mundo. A ausência desse momento de despedida pode ser um gatilho para patologias graves como a depressão, ansiedade e síndrome do pânico”, frisa o psicanalista.