O que é o luto e qual a diferença dele para as demais perdas
Texto Hérica Fernandes Publicado por Blog Psicologia Viva
O que é o luto
O Luto é uma resposta esperada e natural que temos ao sofrermos uma perda muito significativa. Pode ser uma separação, desemprego, mudança de cidade, morte, etc.
Essa perda pode nos desestabilizar completamente e precisamos encontrar um novo norte, pois não estamos preparados para isso, mesmo sabendo que é inevitável. É preciso uma readaptação à nova realidade, e isso será um desafio, pois estamos vulneráveis, paralisados e muito frágeis. As perdas produzem dor e muita reflexão!
O luto é singular e único, e com isso não tem um período estipulado para terminar e nem um roteiro a ser cumprido. Quando entramos nele, iniciamos um processo de mudança em nós, pois a despedida de situações, momentos ou pessoas, nos transforma e não temos outra escolha.
É um processo natural e essencial para que possamos nos reconstruir, nos reorganizar diante do rompimento de um vínculo.
O luto é amargo, mas necessário para que consigamos seguir em frente.
O que sentimos quando estamos de luto?
Podemos sentir e reagir ao luto de diversas formas, isto é, intelectualmente, emocionalmente, fisicamente e espiritualmente.
Sentimentos como
- Tristeza,
- Raiva,
- Culpa,
- Fadiga,
- Ansiedade,
- Solidão,
- Fraqueza,
- Déficit na memória,
- Alteração no apetite,
- Aumento ou perda da fé,
- Isolamento e sentimento de não merecimento daquela dor.
O mundo, antes seguro e ordenado, é percebido como injusto e incontrolável.
As nossas reações durante o luto estão diretamente ligadas ao grau de importância, vínculo e relacionamento que tínhamos com o que ou quem foi embora. Depende também se a perda foi súbita ou gradativa.
Alguns tipos de luto
O luto, por mais doloroso que seja não é uma enfermidade, mas sim uma trajetória natural de cura, mas são classificados como “luto normal” ou “luto patológico”. A maioria das pessoas possuem recursos para enfrentar este processo, mas em alguns casos existe a necessidade da assistência de um profissional.
O “luto normal” é o processo pelo qual o indivíduo compreende e aceita a perda do ente querido, adaptando-se à condição de viver sem aquela pessoa. Mesmo a tristeza, o choro, a saudade e as lembranças ainda presentes. Mas a questão não é não sentir a perda, mas como ela é sentida e administrada.
O luto complicado caracteriza-se quando a pessoa experimenta uma desorganização prolongada que a impede de não retomar suas atividades com alguma qualidade Além dos sentimentos que acometem no “luto normal”, há também as somatizações, isolamento, episódios depressivos, baixa autoestima e impulso autodestrutivo.
Segundo Horowitz, o luto complicado é a intensificação do luto até o ponto em que a pessoa se sente sobrecarregada, recorre a um comportamento mal adaptado ou permanece interminavelmente num estado de luto, sem progressão do processo em direção a seu término.
E como já citei aqui, o processo de luto está muito ligado à forma como a perda aconteceu, como por exemplo:
O luto traumático está relacionado a uma morte inesperada e violenta (normalmente associada a acidente, suicídio ou homicídio). Pode constituir uma experiência ainda mais devastadora, pois as despedidas e ajustes na relação não foram permitidos.
Os enlutados por suicídio normalmente passam por níveis mais elevados de sintomas específicos, tais como o sentimento de rejeição ou abandono, raiva, vergonha, estigma, a responsabilidade e o sentimento de culpa. A procura por uma explicação é incessante e cruel.
O luto antecipatório se inicia com o diagnóstico de uma doença crônica sem prognóstico de cura. E essa situação pode ser um condutor da vivência do luto após a morte.
Aqui, a pessoa vivencia a perda sem que ela tenha ocorrido efetivamente. A resolução de pendências, construção de novos significados e relações podem estreitar os laços dos enlutados com o paciente.
O luto coletivo ocorre em tragédias/catástrofes naturais e ou humanas abalando completamente a sociedade.
Como conviver com essa perda
Em nossa cultura, não temos espaço para viver a nossas dores, nos dizem há todo momento que precisamos ficar bem.
Precisamos sim, mas não no momento em que estamos despedaçados e perdidos. Como perder o meu emprego e não me entristecer? Como passar por uma separação e no dia seguinte estar plenamente vivendo e tocando a minha vida? Como posso me despedir de alguém importante e logo depois seguir com os meus afazeres e rotinas?
Precisamos vivenciar a nossa dor, acolher, chorar, olhar para ela, senti-la e permitir-se sofrer. O futuro torna-se ameaçador e não se sabe como será a vida sem o que nos falta.
Negar a realidade é algo recorrente, e aqui não teremos a chance de resolver e elaborar o vazio deixado por uma pessoa que se foi, um objeto que perdemos ou algo que não está mais lá. Somente a partir da aceitação que o fato ocorreu, teremos a oportunidade de ressignificá-lo.
Olhando para a imagem dessa árvore, podemos perceber sentimentos do enlutado. É como se algo completamente desestruturado encontrasse uma forma de florescer novamente. Não serão as mesmas folhas, mas o ciclo precisou continuar. No seu tempo!
O que nos ajuda e muito, é falar sobre a perda, criar rituais, despir-nos de qualquer vergonha ou culpa e vivermos um dia de cada vez, tendo o tempo como nosso aliado. Não o tempo cronológico, mas o tempo interno de cada pessoa.
Podemos enfrentar sozinhos, ou receber a ajuda de pessoas próximas e queridas neste processo. Se a relação de amizade é algo importante para você, recorra a esses amigos.
Reflexão final
Em casos de perdas e separações de pessoas, precisamos lembrar que parte delas, o que aprendemos e sentimos, está em nós e no que nos tornamos.
Quando precisamos nos despedir de alguém, não estamos nos despedindo do que ela representa e significa para nós. Aceitar não significa esquecer e sim ter pessoa dentro de nós, mesmo sendo um processo demorado e dolorido! E lembre-se, não precisamos passar por esses momentos sozinhos!
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