Palavras sem hora marcada. Lar doce lar.

Por Lourdes Custódio

Quando os nossos pais partem
herdamos uma casa cheia.
Cheia de móveis, uns mais antigos, outros nem por isso, roupas de tamanhos definidos, atoalhados que nos recordam datas especiais ou simples momentos em família…
Quando os nossos pais partem
herdamos uma casa cheia.
Cheia de objetos, uns que adoramos e outros que não gostamos, uns que queremos conservar outros que nunca iremos usar…
Quando os nossos pais partem
herdamos uma casa cheia.
Cheia de cantos e recantos, lugares à mesa, marcados, relógios com rotinas bem conhecidas…
Quando os nossos pais partem
herdamos uma casa cheia.
Cheia de memórias que transbordam para além das fotografias acumuladas em caixas amarelecidas pelo tempo…
Quando os nossos pais partem
herdamos uma casa cheia.
Cheia de sabores e de odores que nos embalam e remetem, tantas vezes, à infância…
Quando os nossos pais partem
herdamos uma casa cheia.
Cheia de tradições, conversas, expressões, segredos, cantigas, lamentos, risos e gargalhadas…
Quando os nossos pais partem
herdamos uma casa cheia.
Cheia de afagos, de olhares, de sentires, de aconchegos, de palavras por murmurar, de colo…
Quando os nossos pais partem
herdamos uma casa cheia.
Cheia de silêncio, vazia de sentido.
Texto publicado no facebook Mala d’ estórias
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