Instância da morte
A morte é a certeza mais certa de todas as incertezas da vida. Ela mexe na alma, manipula o amor, manifesta uma diferente dor; brinca com a saudade e explica ou sacode a razão de ser; mistura ou embota a essência do valor que sabemos ou pensamos ter. Acalma, agita, palpita o senso da emoção e o coração; transforma a capacidade de ação e metamorfoseia a imaginação; algumas vezes, aflora o lado desconhecido escondido, que não acreditávamos ter; e, ao mesmo tempo, alvoroça ou aquieta a mente adormecida, acomodada, motivada, intempestiva, acelerada ou entusiasmada; e, balança a questão do existir, dos porquês que não entendemos, e dos senões que não queríamos.
Em honraria a quem se foi, e para homenagear o sentido da razão e da existência humana, há necessidade de se ressuscitar o que morre dentro de nós em decorrência da morte alheia. Precisamos fazer um transformador ato; um pacto pela vida; quebrando o que nos mantém no marasmo da culpa, do medo, da triste solidão, da questão sem fim, do sofrer reticente e persistente; antes que, ingressemos na areia movediça que nos aprisione e nos condicione à destruição progressiva, lenta, enganadora, e malévola. Pela energia mais preciosa da vida, o amor, e pela “alegria implícita e retumbante” de quem partiu, sejamos uma boa mudança, necessária e renovante.
Apesar de tudo, de qualquer coisa, ou de nada, algumas vezes, penso que não é necessário argumentar ou filosofar sobre a morte; apenas silenciar, viver, continuar o caminho, persistir; sem entender ou querer compreender; viver o luto e lutar a luta da superação, da ressignificação e da aceitação. A cisão da mente é dura, neste momento da perda. Muitas pessoas se enclausuram em seus casulos de sofrimento, em suas ânsias questionastes; em seus lamentos flutuantes, e jamais conseguem se livrar deles. Esse texto é uma ode à vida, e uma gratidão a ti, meu irmão Régis…
A coluna Momento de Reflexão é publicada
aos sábados
Com a assinatura do Dr. Russen Moreira Conrado
Cirurgião Plástico e psicoterapeuta CRM: 5255-CE
RQE Nº: 1777 – RQE Nº: 1811
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