Como agir diante de uma pessoa enlutada: o que não fazer no luto
Por Jociane Casellas para Saúde Debate
Muito de nós já nos deparamos com situações em que há dor e sofrimento em função da vivência de uma perda, seja ela repentina ou prolongada em virtude de uma doença ou situação crítica de saúde.
São situações muito delicadas e muitas vezes acabamos, na tentativa de sermos solidários, tomando algumas atitudes e proferindo algumas palavras que pouco ajudam ou até pioram ainda mais a situação, podendo até mesmo atrapalhar o processo psíquico e emocional dessa pessoa.
A dor do luto que alguém vivência é única e pessoal e não devemos jamais agir considerando como se algo que consideramos bom pra nós, seja também para o outro. O que é bom para o outro só ele pode nos dizer.
Algo que nunca falha é o acolhimento, mostrar-se disponível para aquele/a que sofre uma perda e enfrenta seu processo de luto. Lembrando que esse processo também é particular, pessoal, singular, e tem um tempo variável.
Cada pessoa vivencia um processo de luto da sua forma, conforme suas referências internas e externas, mobilizando seus mecanismos de enfrentamento, que tem a ver com sua história, com sua subjetividade, com seu jeito de ser, funcionar e sentir.
Ao desejarmos oferecer auxílio à pessoa enlutada, o melhor caminho é sempre ouvir mais do que falar. Perguntar do que ela necessita antes de tomarmos qualquer ação, e mostrar disponibilidade para estar junto.
Já ouvi muitos relatos de pessoas que não encontram “autorização” para chorar. É muito comum frases como: “não chore”, “seja forte”, “vai passar” “fulano/a não gostaria de ver você chorando assim”. São frases que invalidam o sofrimento e a dor da pessoa que passa pelo processo de luto. O choro faz parte da elaboração e ressignificação desse momento, e é uma forma de externalizar sentimentos muitas vezes inomináveis.
Em outras situações, as pessoas agem como se nada tivesse acontecido, achando que assim ajudam a pessoa enlutada a “esquecer” mais rápido ou retomar sua rotina mais depressa desconsiderando que cada um tem um tempo de luto que é diferente para cada pessoa. E muitas vezes a pessoa enlutada quer falar sobre a pessoa que morreu, e essa é uma forma de elaboração dessa dor.
Não podemos esquecer que cada vivência nesse contexto também tem suas particularidades, e não existe dor maior ou menor para quem passa pela perda de uma pessoa amada. Uma mãe ou um pai que perdeu um/a filho/a, um filho ou uma filha que perdeu o pai ou a mãe, alguém que perdeu seu/sua companheiro/a, um/a amigo/a, irmão/ã, alguém que perdeu seu pet, uma perda gestacional, enfim…
Todos esses exemplos de perda por morte afeta de alguma forma as pessoas envolvidas, e seu sofrimento é legítimo, precisa ser validado.
Dizer que: “ele/a foi para um lugar melhor”, “foi melhor assim”, “você tem outros filhos/as precisa pensar neles/as”, “era só um cachorro/gato”, “você é jovem, pode se casar novamente”, “você é jovem, pode engravidar de novo”, são frases que, mesmo sendo ditas com a melhor das intenções, não ajudam em nada.
Esse é um momento que talvez não existam palavras que possam amenizar a dor de alguém em processo de luto, e a melhor coisa a fazer é estar perto, demonstrar apoio, sensibilidade e afeto.
Curiosidade também não cabe nesse momento. Perguntar sobre detalhes da morte, da doença, do acidente, seja lá o que for, é inconveniente. Da mesma forma que comentar sobre a aparência da pessoa falecida.
Nem sempre precisamos responder com palavras um choro, um lamento, uma tristeza, um desabafo. Um abraço sincero, um cuidado, um toque afetivo podem trazer muito conforto e sensação de acolhimento.
O silencio não é constrangedor, ao contrário, pode ser muito mais adequado e apropriado, transmite respeito, cuidado, sentimento e presença.
* Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná em 2000. Pós-graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica (UTP). Pós-graduada em Psicologia Hospitalar (HC-UFPR). Pós-graduada em Psicologia Transpessoal (FIE). Especialista em Cancerologia pelo programa de residência multiprofissional do Hospital Erasto Gaertner e Ministério da Saúde. Mestre em Bioética (PUCPR). Atuante em Cuidados Paliativos. Trabalha na área da saúde tanto na assistência como na docência, com temas sobre morte, luto, humanização, cuidado integral, comunicação em saúde.
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