Livros: Indicações de leitura sobre a morte, o morrer e o luto em diversos contextos

Blog Perdas e Luto por Nazaré Jacobucci

 

“Nem todo aprendizado precisa de leitura. Mas toda leitura gera um aprendizado” (Flávia Savoia)

Caros leitores, eu tenho que confessar a vocês: eu sou apaixonada por livros desde a infância. Eu penso que um livro não apenas nos fornece conhecimento. Ele é capaz de nos transportar para lugares inabitados de nossa consciência e, muitas vezes, nos possibilita ter um novo olhar sobre o mundo e sobre nós mesmos. Atendendo a inúmeras solicitações que recebi de profissionais, estudantes e leigos, preparei uma nova lista com algumas recomendações de leitura. Compartilho, então, algumas sugestões de livros que nos convidam a uma reflexão sobre a temática da morte e do luto.

Este livro aborda um tema atual experienciado por uma sociedade cada vez mais cibernética e midiatizada. O livro leva-nos à reflexão e ao conhecimento da complexidade existente na escolha, especialmente em situações de finitude da vida, sobre o destino da herança digital deixada por todos nós para que ela não seja perdida ou transformada em lixo digital. A morte física pode não representar a morte no ciberespaço e este livro fornece um roteiro para as principais questões, dilemas e soluções. O livro auxilia os usuários de plataformas on-line a decidirem o destino de seu legado digital com dignidade, segurança e sensibilidade, colocando em foco nossas vidas digitais após a morte.

A obra trata, com muita delicadeza, do processo de luto, considerando sua pluralidade e revelando que existem muitos tipos de dor quando as perdas são significativas. Muito embora tenhamos a sensação de estar imersos em nossa solidão particular, o livro nos mostra o contrário. Há um universo de pessoas que tentam diariamente encontrar novos caminhos para recomeçar a vida após momentos de perda. Por trás dos holofotes e da projeção profissional, os narradores convidados apresentam a individualidade de suas histórias e reforçam a importância de que é sempre possível enfrentar o fim e seguir em frente.

Depois de vivenciar o luto como terapeuta e, sobretudo, com a morte de seu companheiro, Megan Devine se tornou uma voz expressiva para desconstruir a cobrança de “voltar à vida normal” após a perda de um ente querido. Com uma rara honestidade, este livro se tornou referência no apoio às pessoas enlutadas. Sem romantizar esse momento tão doloroso, ele apresenta histórias reais, depoimentos, estudos, pesquisas e orientações práticas sobre como cuidar do corpo, da mente e do coração durante o processo do luto.

Descubra as formas como diferentes culturas lidam com o luto, a tristeza e a dor da perda a partir da análise de mitos dos ritos funerários de diversos países neste livro  do professor e filósofo Renato Noguera. O que é o luto? Como lidamos com ele? Por que sentimos o que sentimos ao perder alguém que amamos? Como seguir com a vida frente a sentimentos tão intensos e confusos? Diante das diversas culturas, mitologias e filosofias, como a mexicana, chinesa, africana, entre outras, o autor se debruça sobre essas questões e nos apresenta os mais diferentes pontos de vista acerca da morte, do luto, e de como nós, seres efêmeros vivendo na iminência da “desexistência”, lidamos com isso.

Escrito após a morte do pai de Chimamanda Ngozi em junho de 2020, durante a pandemia de covid-19 que mantinha distante a família Adichie, este livro é um poderoso relato sobre a imensurável dor da perda e as lembranças e resiliência trazidas por ela. Consciente de ser uma entre milhões de pessoas sofrendo naquele momento, a autora se debruça não só sobre as dimensões familiares e culturais do luto, mas também sobre a solidão e a raiva inerentes a ele. Com uma linguagem precisa e detalhes devastadores em cada capítulo esse é um livro imprescindível, que nos conecta com o mundo atual e investiga uma das experiências mais universais do ser humano.

Quando Rosa Montero leu o impressionante diário (incluído como apêndice neste livro) que Marie Curie escreveu após a morte de seu marido, ela sentiu que a história dessa mulher fascinante guardava uma triste sintonia com a sua própria: Pablo Lizcano, seu companheiro durante 21 anos, morrera havia pouco depois de enfrentar um câncer. As consequências dessa perda geraram este livro vertiginoso e tocante a respeito da morte, mas sobretudo dos laços que nos unem ao extremo da vida.

Não é sobre superar, é sobre ressignificar… Você se sente completamente só vivendo seu luto? Ressignificando Perdas nasceu como resultado de anos de muito estudo e práticas efetivas que irão ajudar você a compreender o que sente, acolher o seu sofrimento e lhe fazer refletir que não existe superação para a dor mais profunda que podemos enfrentar nessa experiência humana. A ressignificação é o único caminho possível, segundo a autora, que perdeu a sua mãe e a sua avó materna para a Covid, em 2020. Você irá se sentir acolhido e compreenderá que o luto não é um problema a ser resolvido. Ao contrário, é um processo natural que precisa ser vivido para ser ressignificado.

Escrito após a trágica morte de sua esposa como uma forma de sobreviver aos “momentos insanos”, A anatomia de um luto é a reflexão honesta de C.S. Lewis sobre as questões fundamentais da vida, morte, sofrimento e fé em meio à perda. Esta obra contém as reflexões precisas e genuínas do autor sobre aquele período de luto. Este é um registro belo e inflexivelmente honesto de como até mesmo um cristão firmado na fé pode perder todo o senso de significado no universo e começar a ter questionamentos existenciais, e de como ele pode gradualmente vivenciar a perda de entes queridos e se recompor.

A morte em si já constitui um grande tabu no mundo ocidental. O mesmo se pode dizer do luto, sobretudo quando ele não é visto como tal – são as chamadas perdas simbólicas e/ou ambíguas. Partindo dessa realidade, Gabriela Casellato reúne aqui Luto por perdas não legitimadas na atualidade, textos fundamentais para compreender o assunto. Dividida em quatro partes – “Os lutos do ser”, “Os lutos do estar”, “Os lutos do cuidar” e “Engajamento social: do silêncio à ação” –, a obra conta ainda com um posfácio sobre a pandemia de Covid‑19, que varreu o mundo e continua assolando o Brasil.

Livro: Homens Gays e o Luto: Sentidos atribuídos à experiência de fim dos relacionamentos (Jose Valdeci Grigoleto Netto)

Este livro busca tencionar reflexões acerca da ruptura de relações afetivas entre homens que se consideram homossexuais cisgêneros e seus efeitos em sociedades heteronormativas, esse foi o objetivo central da pesquisa que embasa o livro. Para tanto, ele foi fundamentado em referenciais teóricos que exploram a temática do luto e em estudos sobre a diversidade sexual e de gênero, com ênfase em produções teóricas que discorrem sobre os efeitos sociais desta ruptura com uma visão para além do frequentemente proposto, ou seja, buscou-se ampliar a compreensão do luto para uma categoria ético-política e socialmente atravessada.

O luto por um animal de estimação é uma experiência muitas vezes desconsiderada em nossa construção social, apesar de ser um processo real e significativo. É crucial reconhecer que o vínculo entre um animal de estimação e seu tutor é genuíno, repleto de afeto e que a perda desse vínculo pode ter um impacto profundo. Em nossa sociedade, é comum silenciar, minimizar, desqualificar e relativizar essa forma de luto. Este e-book tem como objetivo reconhecer e validar o luto que ocorre após a perda de um animal de estimação, ajudando-o a compreender esse processo, se organizando diante deste momento extremamente desafiador.

Em Lágrimas à Livre Demanda, a autora Brunna Barreto compartilha a enternecedora e impactante experiência do luto ao perder seus bebês gêmeos, o casal Emma e Erick. Por se tratar de um relato real, é possível enxergar a dor dessa mãe de dentro para fora através de suas palavras. Estas páginas falam sobre luto e dor, sim, e também sobre força, fé e gratidão, sobre amor e união, sobre saudade. Sobre continuar sendo mãe depois de perder seus filhos.

A mulher que perde o marido é viúva; a que perde os pais é órfã. A mulher que perde o filho é algo que não cabe em palavras. Essa experiência não é passível de nomeação. Vivenciar o inominável é voltar à condição alheia de criança recém-nascida, incapaz de concretizar qualquer estímulo que não venha das próprias vísceras. O mundo de fora fica mudo; o de dentro, grita a cada toque. Como se sente a mulher diante da morte de um filho? Esse questionamento é, de certa forma, o start para este livro, a partir de depoimentos de sete mães cujos filhos, de diferentes idades, faleceram em circunstâncias diversas.

Por vezes o ciclo da vida inverte-se: morre-se antes de nascer. Estará a sociedade civil consciente da fragilidade da maternidade e do vigor desse sono eterno que nos desvincula da existência? Este livro denuncia os processos da dor e do luto em mulheres que enfrentaram o drama da perda gestacional. São testemunhos reais de uma dura realidade que, silenciosa, clama por ser ouvida.

Livro: O livro do adeus (Todd Parr)

​Compreender a morte como um processo natural e aceitá-la de forma serena é uma tarefa difícil até para gente grande. Imagina para a criança que, de uma hora para outra, se vê obrigada a dizer adeus a um bichinho de estimação ou a um membro da família? A fim de descomplicar essa delicada situação, o renomado autor e ilustrador norte-americano Todd Parr criou O livro do adeus. Com seus coloridos desenhos, a obra traz uma comovente e esperançosa história sobre dizer adeus a alguém que a gente ama.

Livro: Harvey: como me tornei invisível (Hervé Bouchard)

Harvey vê sua vida virar de cabeça para baixo quando toma conhecimento da morte do pai. Invadido por um sentimento desconhecido e desolador, Harvey tenta proteger-se da dor, refugiando-se em seu rico mundo de fantasia. Uma sensível e realista narrativa sobre a perda de um ente querido e a necessidade de encontrar recursos pessoais para superar a dor do luto.

Livro: Mas Por quê?! – A História de Elvis (Peter Schossow)

Nesta história do alemão Peter Schössow, a revolta e a indignação explodem pelas páginas do livro. Não sem razão. A menina não se conforma com a morte de Elvis. Ele cantava e dançava tão bem! E agora, jaz ali, dentro da sua bolsa de couro, vermelhona e brilhante, do tempo da vovó. Elvis, seu canarinho amarelo, teve de morrer. Reviver pela lembrança os momentos com Elvis é a chave para sofrer menos. Por meio de um texto sucinto e direto, o inconformismo da menina dá lugar à serenidade. Com recursos da narrativa fantástica, Mas por quê??! não usa meias palavras para lidar com o tema da morte. Afinal, sentir saudades independe de idade.

 

Este livro, escrito por Mayla Cosmo Monteiro, Ana Maria Rodrigues Franqueira, Alexandra Coelho e colaboradores, aborda, de maneira clara, didática e inteligente, diferentes cenários associados à morte, ao morrer e ao luto. A leitura desta obra de alta qualidade proporciona melhor compressão da morte e do luto por meio da perspectiva social, histórica e espiritual, incluindo aspectos éticos relacionados à morte, aos cuidados paliativos, à reflexão bioética no fim da vida, às ferramentas de autocuidado para profissionais, à fadiga por compaixão, à abordagem com a segunda vítima e à educação para a morte no contexto hospitalar, entre outros temas importantes. O leitor desta obra elaborada por autores de excelência certamente vai compreender melhor o processo de morte especialmente quando o foco é o paciente, a família e os profissionais de saúde.

Livro: Psicologia Hospitalar: desafios do cotidiano – da vida adulta à velhice (Caio Henrique Vianna Baptista, Cleunice de jesus Wosnes e Rodrigo Noronha da Fonseca)

A Psicologia tem sido cada vez mais requisitada no ambiente do hospital. Optar pela Psicologia Hospitalar tem exigido diversas expertises deste profissional, que precisará se atualizar constantemente para prestar uma eficiente assistência ao paciente, aos familiares deste, à equipe, à instituição hospitalar em si e à sociedade. Este livro não só se dedica às temáticas do adoecimento em pacientes adultos e idosos, mas também levará o leitor a repensar práticas, rever seu papel na instituição e aprimorar conhecimentos sobre situações específicas do cotidiano no hospital.

Atualmente, falar sobre morte ainda é um tabu, embora problemas como câncer, aids, desespero, solidão, luto, suicídio e violência constantemente nos remetam a refletir sobre esse tema. Este livro traz à tona a importância de aprendermos a lidar com essa temática de forma a amenizar a dor causada por ela, tanto no nosso cotidiano enquanto pessoas, como no manejo clínico com pacientes que buscam auxílio profissional. Este livro é leitura obrigatória para nós psicólogos.

A autora reúne aqui décadas de experiência no atendimento a pessoas enlutadas e na formação de profissionais que atuam nesse campo. Mais que isso, oferece um amplo panorama a respeito das teorias e pesquisas sobre luto, sempre se valendo do rigor científico e de uma visão peculiar desse processo, que integra aspectos psíquicos, sociais, cognitivos, espirituais e físicos. Tomando por base a teoria do apego, de Bowlby, a autora aborda, entre outros temas, os diversos tipos de luto, seus fatores predisponentes, recursos para o diagnóstico e modos de intervenção terapêutica. Este livro é leitura obrigatória para nós psicólogos.

Livro: Lutos finitos e infinitos (Christian Dunker)

Ao longo da história, em diferentes tempos e sociedades, o luto tem sido um desafio literário, filosófico e ético. Mas ele é também uma tarefa prática que todos nós enfrentamos. Ao convocar memórias pessoais e estudos desenvolvidos sobre o tema, o psicanalista Christian Dunker promove uma leitura sensível e humanizadora do trabalho do luto. Tendo em conta um novo modelo de luto, e fortemente baseado nas premissas teóricas da psicanálise e em exemplos clínicos entremeados com narrativas culturais, Lutos finitos e infinitos aborda um dos temas mais relevantes da contemporaneidade, pois “o luto não se resume à perda de uma pessoa amada, mas é uma espécie de paradigma genérico para pensar os destinos para a experiência humana da perda”.

Este livro busca transformar a assistência obstétrica e neonatal no Brasil para que todas as famílias sejam acolhidas com dignidade não só no nascimento, mas também na morte. Trata-se de um livro urgente, para apoiar profissionais que lidam com o nascimento quando ele vem acompanhado de perto pela morte. Ainda que possa ser lido por qualquer pessoa desejosa de saber mais sobre o tema, Como lidar: luto perinatal foi pensado, especificamente, como uma ferramenta de reflexão destinada a profissionais e instituições de saúde.

O luto é um momento difícil em que muitas emoções diferentes afloram, mas a neurociência tem uma explicação para isso. Em O cérebro de luto, a pesquisadora e professora de psicologia Mary-Frances O’Connor explica como o nosso cérebro lida com a dor emocional da morte e também com outros tipos de luto, como uma demissão, o fim de um relacionamento, uma limitação provocada por alguma doença, etc. A autora explora as diferentes fases do luto e discute como a idade, o gênero e a personalidade podem afetar a forma como lidamos com a perda. Ela também ensina dicas práticas de como cuidar da saúde mental durante o luto e como podemos ajudar quem está passando por essa experiência.

Obra-prima da espiritualidade! Este livro é amplamente reconhecido como uma das apresentações mais completas e fidedignas dos ensinamentos do budismo tibetano. Oferece uma orientação para a vida e para a morte cujas raízes estão no coração da tradição do Tibete. O livro é uma introdução lúcida e inspirada à prática da meditação, às dificuldades e alegrias do caminho espiritual, à natureza da mente, ao carma e renascimento, ao amor compassivo e aos cuidados com os que estão próximos à morte.

Estreia de uma das mais novas e marcantes vozes da literatura brasileira, este é um romance comovente e aterrador. O que acontece quando uma menina de oito anos, inteligente e amorosa, morre subitamente? O livro de Tiago Ferro tenta compreender os ecos dessa devastação na família e círculo de amigos dos pais. Gestado a partir de uma tragédia experimentada pelo autor em 2016, o livro não se restringe ao inventário doloroso dessa perda indizível, mas amplia o campo da escrita do luto a partir do manejo consciente e irônico de temas como autoimagem, sexualidade, humor, confissão, memória e fabulação. Um livro comovente e aterrador.

Ao trazer a morte da mãe para o centro deste relato, Noemi Jaffe, uma das principais vozes da literatura brasileira, expõe de forma brutal as feridas do luto e o que é possível fazer para vivê-lo. Em fevereiro de 2020, aos 93 anos, falece Lili, sobrevivente do Holocausto, mãe de três filhas e viúva. Sua doença vinha se estendendo há tempos, mas isso não faz com que a dor de sua partida seja menor. A banalidade da causa, “uma infecção nos pés”, é confrontada com um sentimento de descrença. Como é possível que aquela que sempre esteve presente não exista mais? Com domínio narrativo único e uma honestidade perturbadora, Noemi Jaffe relata os primeiros dias após a perda da mãe, indo fundo em suas lembranças e seus anseios para produzir uma história sobre a morte, mas também sobre o que fica depois dela.

 

Como pudemos observar há vários livros interessantes que podem auxiliar-nos a refletir sobre a morte, o morrer e o luto. Boa leitura!

 

Para conferir a publicação original, clique aqui!

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