A morte e o dilema da finitude humana

Prof. Ms. Adelino Francisco de Oliveira  para Site Diário do Engenho

Agora vemos como em espelho e de maneira confusa, mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido.

1Cor  13,12.

O tema da morte evidencia o problema da finitude da vida humana. A realidade da morte coloca em questão o sentido da própria vida. Diante da expectativa da morte o humano experimenta a urgência da vida. Sente a terrível angústia de se situar na esfera do desconhecido, do mistério.

A sociedade contemporânea, escrava da dimensão material da existência, tem dificuldade de lidar com o tema da morte. O despontar da materialidade como bem absoluto torna a realidade da morte em um evento desesperador. Se para o homem contemporâneo o seu único bem se esgota e se encerra em aspectos materiais, a morte torna-se algo aterrador. O desespero e espanto decorrem da compreensão e identificação da morte como aniquilação, negação e privação total da vida.

Na perspectiva da filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre, a morte sinaliza a falência e o fracasso do humano. Para o pensador francês o humano é uma paixão inútil, um ser para a morte, para o nada, para o vazio. Todos os projetos e anseios humanos apenas vislumbram sentido existência, encontrando fim na morte.

Ultrapassando e suplantando o niilismo do existencialismo de Sartre, o cristianismo contempla no mistério da morte a passagem para a vida que se desvela eterna. Na compreensão cristã, a morte não significa, em absoluto, destruição e aniquilação. Para a fé cristã a morte configura-se como mera passagem, via que conduz à ressurreição, à vida eterna. Na mentalidade cristã a morte marca apenas o fim da vida no corpo e inaugura as possibilidades da vida em plena união com Deus.

A teologia cristã, quando entretida com o tema da escatologia, aponta e enfatiza a firme esperança de uma vida a ultrapassar a morte. Na concepção escatológica cristã, o destino último do humano é a ressurreição, a contemplação plena do amor que é o próprio Deus. Destino amorosamente reservado a todo indivíduo, pois o amor divino sempre atrai e inclui. Mesmo o indivíduo mais perverso, profundamente desumanizado, existencialmente perdido, diante de Deus é arrebatado por seu infinito amor. Não é possível ao ser humano dizer não, de maneira definitiva e eterna, ao Amor que salva e santifica.

Neste contexto, a celebração do Dia dos Finados remonta a uma longa tradição na Igreja Cristã. Desde suas origens, no contexto da Antiguidade, a Igreja sempre fez memória, por meio de rituais e orações, de seus filhos mortos. Em Finados, a Igreja chama, convida o fiel a se debruçar sobre o mistério da morte, ressaltando que o destino último do humano é a ressurreição. Assim, na celebração de Finados, a Igreja destaca a esperança e fé na vida definitiva, a transpor a morte.

A experiência da morte evidencia a finitude e temporalidade do humano. A realidade da morte ao mesmo tempo em que denuncia a relatividade de toda materialidade da vida aponta para realidades existenciais bem mais elevadas. A morte assume então uma representação pedagógica, a ensinar que o fundamental da existência reside no amor, bem maior e fim último de todo caminhar humano. Quando da morte, injustos, justos, muitos tomados pelo pecado, outros enredados pela fé, não se esquivam, rendem-se ao apelo afetivo de Deus, Criador amoroso e salvador.

 

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A morte e o dilema da finitude humana

 

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