BAURU, DA BOCA DO SERTÃO A 1.960
Por Vivendo Bauru
Vamos começar do começo.
Vamos nos situar na capital paulista, a partir da qual se projetou o avançar rumo ao sertão (hoje interior do Estado), isso pelo idos de 1.820, quando começaram as conquistas do interior, daí os municípios mais próximos da capital paulista terem sido fundados antes de nossa Bauru. A seguir os desbravadores seguiram rumo à nossa região e assim indo à toda extensão centro-oeste. A fundação dos municípios do Estado de São Paulo e estados mais a oeste se deram na ordem cronológica, o que nos permite o avançar do desbravamento pelos chamados bandeirantes paulistas.
Se formos conferir a data de fundação de municípios próximos à nossa capital, nos situaremos no tempo e nos veremos invadindo o sertão, num desbravar que consistiu em derrubada de mata, confronto com os nativos (índios Caigangues) e todas as dificuldades próprias no enfrentamento de um bandeirante.
Século XVIII
Na Boca do Sertão vai surgindo nossa Bauru, com o avanço dos bandeirantes, enfrentando os índios e outras adversidades.
Depois de Botucatu e além da serra de Agudos, haviam as terras de Bauru, assim chamadas pelos índios Caigangues, que as defendiam valorosamente, em princípio e meados do século XVIII.
O nome Bauru merece, ao longo da história, várias teorias para explicação de sua origem, sendo uma das mais aceitas a defendida por Ismael Marinho Falcão, um engenheiro que conviveu durante muitos anos com os índios que habitavam a região. Segundo ele, a região era chamada “ubauru”, em razão da existência de grande quantidade de uma planta herbácea chamada ubá’, utilizada na confecção de cestos e balaios, e de uru’, ave rasteira da família das galináceas. Há quem defenda que o nome vem de mbai-yuru’, que significa cachoeiras, rio em forte declive; ou de ybá’ e uru’, cesta de frutas; ou ainda de bauruz’, como eram chamados os índios que habitavam às margens do rio Batalha.
Foi quando a política do governo imperial decidiu incentivar a ocupação do interior do território brasileiro, dando posse a quem requeresse em terras devolutas para desenvolver a produção, estimulando assim os aventureiros e colonos a se embrenharem pelos sertões, abrindo fazendas de gado e, no interior da província de São Paulo, plantando café, o ouro preto.
Entre os primeiros a enfrentar a resistência dos Caingangues estão Sebastião Pereira e Pedro Francisco Pinto, e mais tarde Mariano José da Costa e João Batista Monteiro. Isso nos idos de 1.830, quando penetraram a região de Bauru, seguindo pelo rio Batalha.
Porém o processo de ocupação mesmo começa a tomar força por volta de 1856, com a chegada de Felicíssimo Antonio de Souza Pereira e Antonio Teixeira Espírito Santo, que após conquistas ao longo da região mencionada, se estabelecerem nesta região e iniciaram um difícil trabalho que consistiu na derrubada das matas seculares, erguendo em seu lugar paliçadas rústicas e levantaram casebres para que pudessem alojar suas famílias.
Foi assim que se deu o começo da terra recém-conquistada, com o início de diferentes plantações. Para garantir sua propriedade, Felicíssimo Antônio de Souza Pereira se deslocou até Botucatu, numa viagem demorada, e lá registrou a posse, colocando no final do documento o seguinte teor: “Bauru, 15 de abril de 1856” e foi aí que pela primeira vez que o nome de Bauru, como povoado, aparecia em um documento oficial.
Começava desta maneira a surgir a Vila de Bauru, um lugarejo modesto, humilde, mas que tinha tudo para expandir e transformar-se na grande cidade que é hoje. Chegavam novos moradores, parentes e conhecidos daqueles dois desbravadores considerados os fundadores de nossa cidade.
Azarias Ferreira Leite, nascido na localidade de Lavras, Minas Gerais, no dia 8 de dezembro de 1866 aqui chegou pela primeira vez na segunda metade do século XVIII, tendo retornado em outras ocasiões para, em 1888, radicar-se definitivamente com sua mulher Vicentina, filha de outro influente pioneiro – João Batista de Araújo Leite – que com ele veio (era tio e sogro de Azarias).
Novos colonos surgiram, atraídos pela fecundidade do sertão de Bauru para aventurar fortuna. A lavoura cresceu e onde anteriormente eram matagais, começava a surgir o verdor das plantações enfileiradas (café). Foi o início da marcha para as regiões central e oeste do Estado, no desabrochar de uma esperança. De diferentes pontos do território brasileiro chegavam homens destemidos e até mesmo representantes de outros povos que para o Brasil imigravam e para Bauru vinham e formando assim aquela mescla de raças que se alicerçava na pequenina localidade, sendo a base da miscigenação de nosso povo.
Nossa modesta vila era subordinada ao município de Fortaleza (próximo de Agudos), criado em 1887, cuja instalação aconteceu no dia 7 de janeiro de 1889.
Bauru progredia e as quatro léguas que separavam o lugarejo nascente da sede do município, eram um entrave ao seu progresso, principalmente quanto às dificuldades para a legalização de qualquer ato. Por esse motivo, um movimento emancipador começava a ganhar força, até que em 1888 a Câmara Municipal de Lençóis, a cujo município Bauru pertencia, por proposta que partiu do vereador Faustino Ribeiro da Silva, então presidente da edilidade daquela cidade, foi nomeado arruador para o patrimônio de Bauru o cidadão Vicente Ferreira de Faria.
A ele coube tomar as primeiras providências que diziam respeito à urbanização da vila, delineando ruas e determinando o alinhamento das casas. O trecho da estrada onde já existiam construções passou a ser chamado de rua principal. As primeiras casas se localizavam na altura dos quarteirões 4, 5, 6, 7 e 8 da rua Araújo Leite. Foi ali o centro comercial dos primórdios de Bauru.
Quanto à vida religiosa da terra bauruense, salientamos que foi ainda em 1888 que Faustino Ribeiro da Silva solicitou à Câmara Municipal de Lençóis um auxílio financeiro para o começo da construção de uma igreja, finalmente erguida sobre quatro vigas de aroeira. Foi quando nasceu o primeiro templo católico dedicado ao Espírito Santo, onde os bauruenses expressavam sua religiosidade.
A igrejinha estava entre a atual porta principal da hoje Catedral e o coreto, por onde posteriormente veio a passar a rua Batista de Carvalho, visto a demolição do lendário templo em 1913. Foi quando ocorreu aquilo que ficou para a história como “Bauru excomungada”, diante da reação do bispado ao qual a igreja católica se submetia, com sede em Botucatu (será alvo de comentário mais à frente).
É bom lembrar que o primeiro sinal de religiosidade da então vila de Bauru surgiu com o erguimento de uma cruz, nos idos de 1886, bem defronte à atual catedral, no então Largo Municipal ou Jardim Público, que a partir de 1923 recebeu a denominação mantida até hoje, ou seja, Praça Rui Barbosa, dando assim o início da história da Paróquia do Divino Espírito Santo. Daremos espaço para a história da praça.
Sempre lutando por Bauru, Araújo Leite e Azarias Leite viajaram para São Paulo em 1893 e lá procuraram os seus amigos de maior prestígio, quando demonstraram o desenvolvimento e as possibilidades da região de Bauru, pedindo que entrassem em contato com as autoridades a fim de que fosse criado um Distrito de Paz na cidade.
Apesar da séria oposição de Lençóis e Fortaleza, finalmente, no dia 30 de agosto de 1893, o Dr. Bernardino de Campos, presidente do Estado de São Paulo, promulgou a Lei nº 209, que criou um Distrito de Paz na povoação de Bauru, anexa ao município da vila de Fortaleza.
Aconteceram então as eleições para a escolha do primeiro Juiz de Paz bauruense e nada mais justo a preferência recair na pessoa de João Baptista de Araújo Leite, nome este sufragado por unanimidade.
A instalação do Distrito aconteceu festivamente no dia 6 de julho de 1894, numa das salas da residência de Manoel Jacynto Bastos, em frente ao cruzeiro que este ajudara a levantar na Praça Rui Barbosa, do lado da hoje Rua Gustavo Maciel.
Outro fato importante para a vida bauruense estava por acontecer, visto que o modesto povoado iria realizar as suas primeiras eleições e no auge das discussões entre os políticos de Bauru e os de Fortaleza, uma composição foi proposta com os lideres de nossa cidade fingindo aceitar possibilidades para evitar confrontos mais sérios.
No Cartório de João Pedro de Oliveira funcionou a seção eleitoral do Distrito e o juiz de Paz, Araújo Leite, foi quem a presidiu sob os olhares rigorosos de uma fiscalização atenta de ambos os lados. E assim chegou-se ao final do pleito em 30 de julho de 1895, sem que houvesse um conflito.
Procedida a votação, seis bauruenses conseguem se eleger à Câmara Municipal, sendo eles: Manoel Jacynto Bastos, Domiciano Silva, João Antônio Gonçalves, José Alves de Lima, Joaquim Pedro da Silva e Francisco Pereira da Costa Ribeiro, promovendo protestos em reação pelos moradores da decadente vila de Fortaleza.
O Senado Estadual ordenou que a 7 de novembro fosse feita legalmente a apuração e a 7 de janeiro do ano seguinte os eleitos fossem empossados.
A justiça venceu e Bauru passou a comandar o domínio e a liderança no município com a conquista do legislativo. Com a eleição da Câmara Municipal bem como do intendente (prefeito) José Alves de Lima, ficaram definitivamente formados os dois poderes que iriam dirigir os destinos de Fortaleza e de Bauru.
No dia da posse outro acontecimento veio provocar reclamações dos políticos de Fortaleza, quando o edil bauruense João Antônio Gonçalves tirou do bolso um papel amarrotado com uma indicação histórica, propondo a mudança da sede do município de Fortaleza para Bauru.
Foi quando aquela Vila estava em completa decadência e total abandono, enquanto a futurosa Bauru prosperava, aumentando a sua população dia a dia, o que recomendava sua elevação a povoado, levando as autoridades a pedir para que o ato de aprovação do Estado, que ocorreu com a informação que desde este dia 7 de janeiro de 1896 se considerasse mudada para Bauru a sede da municipalidade, dando-se conhecimento ao Governo.
Após a transferência da sede, em todos os atos praticados pela Câmara Municipal figurava a denominação Município de Bauru, embora a situação ainda não contasse com a aprovação do Senado Estadual (hoje Assembléia Legislativa), que só foi concedida em 1º de agosto de 1896, depois de um trabalho constante da política e da campanha pela imprensa de São Paulo, principalmente os jornais o Estado e Correio Paulistano. Daí a data comemorativa de fundação de Bauru se dar em 1º de agosto.
Trabalharam pela aprovação no Senado Estadual o Dr. Ezequiel Ramos, que apresentou o projeto ao Dr. Cerqueira César, este então membro da Comissão Central do PRP e ao Dr. Júlio de Mesquita, do jornal Estado (hoje O Estado de São Paulo – grupo Mesquita).
Assim, naquele 1º de Agosto de 1896, o então presidente (governador) do Estado de São Paulo, Dr. Manoel Ferraz Campos Salles, sancionava a lei nº 428 do Congresso do Estado que era constituída do único e seguinte artigo: “O município de Espírito Santo de Fortaleza passa a denominar-se Bauru, mudando a sua sede para esta última povoação”.
A notícia do reconhecimento pelo Senado da situação criada pelos vereadores de Bauru foi recebida na localidade de Bom Jardim (perto de Agudos) por telegrama de José da Costa Ribeiro. O despacho foi trazido a Bauru pelo estafeta Domiciano, antigo escravo, e tinha os seguintes dizeres: “Senado aprovou a mudança da sede do município, decretando a lei de hoje, transferindo a sede”.
Transcorridos alguns anos, com Bauru sendo comandada pelo prefeito Francisco Gomes dos Santos, uma notícia iria revolucionar e transformar totalmente o destino da cidade: a construção de uma ferrovia que demandasse a Mato Grosso, ligando aquele imenso território à vida econômica da Nação. Iniciou-se aí a proposta de interligação dos oceanos Atlantico e Pacífico, que ainda hoje é sonho dos brasileiros e povo dos países vizinhos a oeste. Saliente-se que ainda nos últimos anos houve considerável investimento para a construção de uma estrada de ferro perpassando pela Bahia, tendo o porto de Ilhéus como ponto de partida, porém a obra paralisada.
Novas discussões no sentido estão na pauta do dia e pode ocorrer daquele sonho do início do século ser resgatado por conta da necessidade de adequação logística no mundo moderno, até para exportação de grãos produzidos no vizinho Mato Grosso e demais produtos dos estados envolvidos, com foco no porto de Santos (o mais apropriado e estruturado do País). Não será surpreso da história se repetir e nossa Bauru voltar a ser o maior entrocamento rodo-ferroviário e pluvial do País. Já temos a antiga NOB sendo conduzida por um grupo ligado à Cosan e por ironia do destino, tendo como presidente um neto de Marinho Lutz (o retorno).
Leia na íntegra aqui
http://www.vivendobauru.com.br/a-historia-de-bauru-sendo-recontada/