Como lidar com o luto de quem perdeu alguém para a covid-19

Por Tailla Torres para Campo Grande News

Psicóloga dá dicas de como acolher com sensibilidade o sentimento da pessoa que está em luto

syringe-1884784_1920A covid-19 mudou a forma de relacionarmos com a vida e principalmente como vemos a morte. Em 2020, muitos não puderam se despedir, ficar perto, acompanhar o processo de adoecimento dos familiares que pegaram a doença e nem foram permitidos a cumprir os rituais funerários de velório, por exemplo.

Essa lacuna de afastamento se tornou um gatilho para um processo de luto complicado, explica a psicóloga Raissa Ramos Ferreira Pedroli, especialista em luto. “É aquele considerado patológico, no qual o enlutado tem sintomas e prejuízos severos na sua vida após a perda de alguém”, diz.

No luto complicado podem aparecer sintomas de depressão, hostilidade com os demais, bem como afastamento social, comportamentos prejudiciais na vida pessoal e profissional, displicência financeira entre outros que precisão de tratamento psicológico e médico.

Para se ter uma ideia, em nossa enquete destas semana, perguntamos: Você tem dificuldade de lidar com o luto? Das pessoas que responderam, 66% disseram “sim”  e apenas 34% disseram “não”.

Mas a maior dúvida é como lidar com a pessoa que perdeu alguém ou como ser uma boa ouvinte e acolher o sentimento da pessoa em luto.

“Ouvir é quase uma arte”, explica a psicóloga. “A escuta atenta e ativa exige que a pessoa se livre dos seus próprios achismos, principalmente no que diz respeito à morte e crenças sobre vida e morte. Para ouvir e acolher os sentimentos de um enlutado, faz-se necessário respeitá-lo no seu sofrimento, não querer impor ideias e não tentar desviar o assunto, pois falar sobre a pessoa que faleceu pode ser muito importante no momento de dor”, destaca.

Em que momento ligar ou mandar mensagem quando uma pessoa perde alguém? Com o acesso a tantas tecnologias e meios de comunicação, a psicóloga explica que a mensagem pode ser imediata, mas a ligação e o encontro precisam ser combinados na conveniência do enlutado. “Cada dia é único para quem acabou de perder alguém. Costumamos dizer que se trata de uma “montanha russa” sentimental, com dias bons e outros ruins, portanto, é sempre importante questionar e respeitar o espaço do enlutado”.

Como estar perto sem necessariamente estar presente? Raissa explica que isso é possível por mensagens, ligações, mas principalmente no suporte prático do dia-a-dia. “Manter o ritmo da vida e tomar decisões são umas das tarefas mais difíceis para quem perdeu alguém que ama. Os amigos podem auxiliar nas atividades diárias que se tornam pesadas para o enlutado, como fazer compras, pagar contas, levar o pet no petshop, intermediar contato com advogados, ajudar com os pertences do falecido. Claro, sempre questionando e respeitando a vontade do enlutado”.

O que não falar? Frases clichês devem ser evitadas a qualquer custo, orienta a psicóloga. “Foi melhor assim” ou “Foi vontade de Deus” mesmo que na sua religião isso faça sentido. A hora não é de tentar conformar ou convencer o enlutado e sim de respeitar a sua dor, portanto quanto menos falar de você ou das suas crenças, melhor. Não tente comparar experiências, pois cada luto é único. Tente perguntar se a pessoa precisa de algo e observar ao redor sendo proativo para auxiliar, fazendo mais e falando menos são as minhas sugestões. As palavras ditas em um momento tão dolorido podem ficar marcadas de maneira definitiva, por isso, todo cuidado é pouco.”

O que fazer quando a pessoa que ficar sozinha? Querer ficar sozinho é uma resposta natural no luto, a pessoa passa por um período de processamento do que ocorreu e de compreensão de como sua vida ficará a partir daquele ponto e isso exige reflexão e muitas vezes solidão. “Quem está ao redor pode sugerir ajuda profissional a qualquer momento, mas será decisão do enlutado saber quando aceitar. É importante que as pessoas que queiram ajudar, não desistam, o caminho pode ser longo e o enlutado pode levar muito tempo para querer socializar e procurar ajuda profissional.”

Como lidar com o sentimento de culpa da pessoa que está em luto? A culpa do sobrevivente já era um acontecimento conhecido na psicologia, destaca Raissa, mas ganhou destaque agora que muitos sabem da responsabilidade social na pandemia. “Em maior ou menor grau, esses sentimentos de culpa e remorso podem aparecer, mas naturalmente tendem a ficarem mais brandos, na medida em que o luto vai sendo processado. Em alguns casos, nos quais a pessoa sentir que não está lidando bem com esses sentimentos e com tudo que envolve a perda do ente querido será necessário buscar ajuda profissional.

Para ler a matéria original, clique no link.

https://www.campograndenews.com.br/lado-b/faz-bem/como-lidar-com-o-luto-de-quem-perdeu-alguem-para-a-covid-19

Compartilhe