Dor transformada: Psicólogo explica fases do luto e alerta sobre depressão no período
Por Diário do Nordeste
“Luto não é uma doença; é um processo que tem começo, meio e final”, afirma tanatologista
Quanto tempo dura o luto e o que podemos fazer com ele? É possível que todos já tenham se feito essa pergunta pelo menos uma vez na vida. A resposta do psicólogo e coordenador da Rede Nacional de Tanatologia, João Aroldo Escudeiro é que “não podemos falar em tempo. Tempo é o que o senso comum usa como parâmetro para variar o luto de alguém”. E ele é apenas uma das muitas variáveis que influenciam esse processo a que todos somos submetidos um dia.
Quem era a pessoa que eu perdi? Qual a rede de apoio social que eu tenho? Tudo isso deve ser analisado, ressaltando-se que “o luto não é uma doença; o luto é um processo que tem começo, meio e final”, como detalha o especialista. Neste processo, cabem quatro fases elencadas pelo autor da “teoria do apego”, o também psicólogo, além de psiquiatra e psicanalista britânico, John Bowlby.
“A primeira fase é o entorpecimento, a pessoa fica sem saber se é verdade. Será que eu tô sonhando? Isso pode durar horas ou até uma semana”, lembra Escudeiro. A segunda, como descreve o especialista, é o anseio e a busca pela figura perdida. “Ele ouve vozes, ele vê, ele sente o cheiro do ente querido, ele escuta, ‘tem delírios’, alucinações episódicas, o que também é normal”, explica.
Depois de buscar e não encontrar, a pessoa que sofreu a perda vai para a desorganização e desespero, que é a terceira fase. E esta pode acontecer concomitantemente à quarta, de reorganização, visto que o indivíduo pode transitar nessas duas últimas, caindo e levantando.
Em meio a todo esse processo, a criação de projetos sociais pode ser bem-vinda como uma forma de trabalhar a dor da perda. “O indivíduo tem que canalizar a energia dele pra fora”, analisa Escudeiro. Mas o especialista também faz uma ressalva importante sobre essas iniciativas. “Elas podem ajudar na medida em que a pessoa, além de ter esse projeto com uma forma de trabalhar o luto, entra em contato com o sentimento, com a dor. Luto pressupõe sofrimento. Se você perde alguém importante, como o filho, e vai direto fazer uma ONG e fica ‘feliz’, alguma coisa está errada”, observa.
1. O indivíduo deve vivenciar o sofrimento da perda nas quatro fases do luto. Isso envolve meses ou anos;
2. A pessoa pode criar um projeto social e ao mesmo tempo trabalhar o seu luto em uma terapia;
3. Mais importante que um médico, psicólogo ou psiquiatra durante esse processo é uma rede de apoio social para falar sobre o tema.
Para ressignificar a dor, portanto, Escudeiro defende que as quatro fases após a perda sejam vividas, superadas, visto que, quando isso não é feito, o luto pode tornar-se crônico, evoluindo para um quadro de depressão. “A pessoa que está sofrendo precisa de espaço para falar na sua rede de apoio social e, se está muito difícil, vai e procura o psicólogo. O caso do luto não é para medicalizar, é um processo que deve ser vivido naturalmente”, finaliza.
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