Luto no ambiente profissional: como as empresas têm lidado com a morte
Por Dino para Site Exame.com.br
Durante décadas, prevaleceu nos escritórios a máxima “deixe seus problemas pessoais fora da empresa”. Apesar de ir contra a natureza humana, o esforço para cumprir tal regra era visto como sinal de profissionalismo, competência e autocontrole. Mas os tempos mudaram.
Se, de um lado, a evolução tecnológica e a “frieza” das máquinas passou a fazer parte do dia a dia empresarial, de outro, a valorização da empatia e a atenção à influência emocional no ambiente corporativo tornaram-se parte do trabalho rotineiro das equipes de Recursos Humanos. Compreender os impactos do luto, seja de uma pessoa querida pelo colaborador, seja do próprio funcionário, agora é diferencial de um ambiente profissional saudável.
Não existe uma regra específica para lidar com a perda, mas diversos especialistas concordam que a melhor forma de enfrentar a morte no trabalho é aceitar sua existência. A partir disso, as ações devem buscar prever: como fica o clima organizacional e a produtividade, qual é a participação dos colegas próximos ao membro da equipe afetado, como a chefia deve atuar e qual é o papel do terapeuta ocupacional, um tipo de profissional que vem ganhando relevância.
Quando um colega de trabalho se vai
A experiência de lidar com a morte de um membro da equipe é individual e depende de fatores como graus de proximidade e intimidade, histórico de vida em relação a perdas, saúde mental e rede de apoio. Além disso, considera-se que a perda para os que ficam não é apenas física, mas também simbólica: perde-se a representação que o falecido desempenhava na rotina de seus colegas, em tarefas desempenhadas em conjunto ou, até, nos momentos de relaxamento, como happy hours.
Entre as medidas tomadas por empresas após a morte de um colaborador, estão: envio de homenagens e coroa de flores; divulgação e participação no velório, enterro e nas missas; dias de licença aos mais abalados e suporte psicológico aos colegas por meio de profissional indicado.
Quando o funcionário perde uma pessoa querida
Neste caso, o impacto no ambiente profissional pode ter início antes do luto propriamente, quando, por exemplo, o colaborador tem que lidar com a doença grave de uma pessoa querida ao mesmo tempo em que busca manter a normalidade de sua rotina. Para situações como essa, o recomendável é que o RH e a chefia sejam informados, já que existe, inclusive, a possibilidade de o funcionário precisar se ausentar.
Outro tipo de luto é o que vem da morte súbita, causada, por exemplo, por um acidente. Ao turbilhão de emoções inerente à perda, junta-se o estado de choque.
É preciso dizer que, independentemente da maneira como o óbito se dá, o trabalho é parte da condição humana e, como tal, está suscetível aos acontecimentos da vida pessoal. Isso significa que o luto pode alterar as funções, causando desânimo pelas atividades ocupacionais, dificuldade da manutenção da vida laborativa e, como consequência, a baixa da autoestima.
Abertura para o tema nas empresas
É impossível prever totalmente a reação de alguém à perda de uma pessoa querida. Embora os sintomas de frustração, depressão e isolamento sejam frequentes, há outros extremos, como o colaborador que busca se ocupar ao máximo, tentando permanecer ativo para afastar a lembrança dolorosa. O essencial é que, quando notificada, a empresa demonstre empatia e atue pelo bem-estar do time. Gestores e colegas têm papel fundamental na superação desse momento.
Pensar apenas na dor não é saudável, mas fugir do luto também não é. Quando uma empresa se convence disso, colabora para ressignificar o cotidiano dos funcionários afetados, que, pouco a pouco, voltarão à organização habitual de seu dia a dia corporativo.
Ainda que nem toda companhia dê abertura ao tema, o total das que o veem, inclusive, como parte de um negócio de sucesso, tem crescido. Estima-se que hoje, no Brasil, cerca de um terço das grandes organizações ofereçam serviços de apoio psicológico, jurídico e financeiro, aspectos que se relacionam ao luto. Compreender – e aceitar – as nuances do ser humano também é sinal de evolução.
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