Luto perinatal

Por Bianca Gianlorenço para São Carlos Agora

O luto perinatal é o processo e elaboração de luto pela perda de um filho ainda na gestação ou em sua primeira semana de vida.

A morte e elaboração do luto ainda é considerado um tema tabu para maioria das pessoas. Até aqueles que se sentem familiarizados com a ideia de que a vida possa ser interrompida a qualquer momento, se surpreendem com as intensas emoções que podem ser vividas no momento de perda, principalmente, diante da perda de um filho.

A complexidade de pensamentos e emoções nunca permitirá que a morte deixe de ser temida ou que leve a crer que a elaboração da perda seja simples, mas quando pensamos no luto perinatal a experiência da dor é intensificada principalmente pela falta de conhecimentos e empatia do entorno da mãe enlutada.

Todos aqueles que lidam com uma perda, sofrem recordando memórias, saudades e pela dor que envolve a interrupção do vínculo com alguém querido. Mas e nos casos do luto perinatal, onde o rosto, gestos e personalidade ainda não estavam presentes? Nos permitimos sofrer? Permitimos a dor do outro diante do que não tivemos a oportunidade de materializar?

O mais triste agravante do luto perinatal é a falta de empatia diante da intensa dor sofrida pela mãe. Apenas a mãe experencia o fortalecimento do vínculo, reservando a si memórias, expectativas e familiaridade com seu pequeno bebê ainda em formação.

Nas memórias e no coração da mãe nascem os primeiros sonhos, expectativas, laços de carinho e de amor. Antes mesmo do nascimento, a mãe se vincula com seu bebê, gestando sua habilidade materna e se sentindo próxima da vida que já existe dentro de si e que está próxima de vir ao mundo se fazendo presente aos olhos daqueles que ainda não podem experimentar das sensações de alguém ainda tão pequeno.

A interrupção precoce da vida deste pequeno bebê não permite aos familiares, mesmo os mais próximos, que se vinculem com a mesma capacidade e intensidade de sua mãe, fazendo com que diante da perda, por melhores que sejam as intenções, o afago não autorize o sofrimento da mãe enlutada. O quarto que já estava pronto é desfeito, os brinquedos e roupas ainda novas ganham um novo destino. “Logo você irá engravidar novamente”, são as palavras das pessoas próximas impossibilitadas de pensar que uma nova gestação não substitui a gestação que gerava aquele filho.

Um novo filho não substitui o filho perdido. Sumir com os rastros de que estamos diante de uma grande perda, não cala a dor barulhenta que cada mãe enlutada carrega dentro de si.

E sem os objetos que tornam sua história real, com as palavras de incentivo pelo esquecimento e substituição e sem o amparo necessário para entrar em contato consigo mesma, a mãe sofre calada, carregando dentro de si, um luto invisível, por lembranças que existem apenas em suas próprias memórias cognitivas e emocionais.

Essa mãe precisa de cuidados e muitas vezes da ajuda de um profissional para enfrentar um possível quadro depressivo, não raros em casos como esse. Ela desejou esse filho, idealizou toda sua vida em torno dele, a perda não é fácil, o luto precisa ser elaborado e compreendido por todos a sua volta.

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

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