Oremos pelas frases de Bauru

Por Prof. Reginaldo Tech

 

Uma cidade também vive de palavras, frases e expressões. E assim vai a Capital da Terra Branca, que virou Cidade Sem Limites e apagou metade do Brasil. Cazuza já dizia: “a garota de Bauru”. E quantas garotas… lá na casa de tolerância: Verão Vermelho, Love Story, Casa das Pedras, Ponto de Encontro, Eny. O Jardim das Orquídeas recebeu as meninas das imediações da Presidente Kennedy com todo amor e carinho. Tudo isso bem antigamente. E quando as Orquídeas foram acabando, lia-se em muitas casas, ladeando casas de bordel: “não perturbe, casa de família”.
E como diria Célio Gonçalves, “oremos!”. Eu ligo o rádio e ouço o Sica, que era o Silvio Carlos Simonetti, dizer: “o termômetro da Jovem Auri Verde no Elevado João Simonetti assinala: vinte e oito graus. Nas piscinas a bandeira é azul”. Frases de efeito que davam as notícias. E o Netão? “Não dá moleza”. Broncolino sempre foi “o primeiro a rir das últimas”. João Bidu, o João Carlos de Almeida, agradecia: “obrigado, obrigado, obrigado muito obrigado”. Tempos de rádio com qualidade. A Jovem ficou velha e virou uma rádio de velhacarias.
E o Flávio Pedroso? Jovem em Tempo de Carinho. Era aos domingos. O Tuba fazia a Caça à Raposa… e todo mundo andava pela cidade procurando as dicas, em pleno sábado à noite. Esse era o Tuba Filho, porque o Tuba Pai era o rei do microfone. Acho que só não entrevistou Deus. Paulo Sérgio Simonetti também fez história no rádio bauruense. Quando trabalhei com ele na Unesp, em conversas sobre futebol, Paulo Sergio falava a escalação dos times inteira. Detalhe: escalação de times de uns vinte anos antes.
Mas esperto mesmo foi Tuga Angerami. Na sua primeira gestão montou um time de primeira: Célio Gonçalves, Sica, Pedro Romualdo, João Ranazi, Cleide Portes. Jornalismo de primeira. Mas o Célio vinha da garagem. Era assim que chamavam aquela turma da Prefeitura, liderada pelo Franciscato, o Alcides. Eu nunca tive aquela camisa: Franciscato, o amigo das crianças. Mas não me fez falta.
Décadas de 70 e 80, que inventaram o verbo Batistar. Sábado era de praxe: Batista de Carvalho interditada e todo mundo passeando lá. Inclusive os poetas Nidoval Reis, Perez Filho, Olegário Bastos, Jeferson Barbosa da Silva, Sérgio Lhamas, Abreu Carvalho e Luiz Vitor Martinello, que inventou de criar um monte de poetas novos e moderninhos pra ficar espalhando poesia pelas ruas, inclusive fazendo chover poesia. Mas na década de 90 acabaram com o verbo Batistar e inventaram o Calçadão. Eu não batisto mais. E você?
E quem se lembra do tobogã? Era do lado da Churrascaria H2? Isso foi bem antes de aparecer o La Gôndola, restaurante italiano do nosso melhor técnico de basquete, o Antônio Carlos Barbosa. A turma dos barbudinhos se reunia lá. Barbudinhos eram os caras que trabalhavam com o Tuga.
Mas Bauru era muito mais. Era a Coreínha, o trem que ligava Curuçá ao Centro. O “Gais”, que era como muita gente falava Geisel. E tem versões do nosso melhor time: Noroeste, Norusca, Vermelhinho, Maquininha Vermelha… apesar de ainda ter muito torcedor da Lusitana, que depois virou BAC, o Bauru Atlético Clube.
Em Bauru as pessoas dizem “aaaachhaaaaa”, quando ficam incrédulas com alguma coisa. Os números das casas tem um traço para separar quadra e casa; e os bauruenses tem intimidade com os nomes das ruas: Gustavo Maciel é só Gustavo… e a gente vai falando: Azarias, Agenor, Gerson… e quando se fala “Avenida” é a Rodrigues Alves. E tudo aqui é Vitória Régia: o parque, o hotel, a lanchonete, a escola de balé. Bauru, cidade de espantos.
Um dia o “cesto de frutas” virou cidade e quando derreteu o queijo virou Bauru, o melhor sanduíche do mundo. Rodrigues de Abreu é o nosso poeta; a Igreja Nossa Senhora das Graças é a Gracinha; a primeira rádio acho que foi a G8; e a TV Bauru foi a primeira do interior da América Latina. Pioneirismo.
Mas Bauru cresceu demais e não se pega mais água na Panela. A coca foi embora daqui… e a gente vai fazendo crônica pra lembrar que bauruense fala “leitxi”, com sotaque caipira, meio caigangue.
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