Luto: como lidar com os impactos na saúde mental

Por Amanda de Andrade Zanotto para Portal R7

O que é o luto para a neurociência?

Luto é uma forma de emoção presente em seres que precisam de ligação social, particularmente aqueles que possuem sistema límbico. É uma resposta complexa a uma perda, um estresse, uma separação ou uma adaptação.

Durante o luto é comum a presença de sentimentos como tristeza profunda, raiva, culpa e medo. Todos estes sentimentos são o resultado de diversas interações que ocorrem no nosso cérebro.

É justamente a ativação do nosso sistema límbico composto por estruturas como hipocampo, amigdala e hipotálamo que permite que sintamos todas essas emoções. Já nosso córtex pré-frontal é o responsável pelo processamento e interpretação de todos esses sentimentos associando experiências vividas e memórias de modo com que aos poucos consigamos integrar todo processo de luto e retomar nossa vida.

A psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross conseguiu identificar a reação psíquica de pacientes em estado terminal e elaborou através deste estudo as cinco fases do luto que seriam: Negação, raiva, barganha ou negociação, depressão e aceitação.

É importante salientar que o processo de luto é individual e não possui regras ou linearidade, o que significa dizer que cada indivíduo enlutado passará por essa experiência de modo singular de acordo com sua capacidade emocional e história de vida.

A verdade é que todas essas fases são importantes para a administração da perda e muito embora, nós, seres humanos tenhamos total consciência da finitude de nossa existência na terra, poucos estão preparados para lidar com a morte.

Viver as fases do luto é importante para compreender e processar a perda entrando em contato com os sentimentos até que as emoções se acomodem e o enlutado siga adiante. Porém, nem todas as pessoas conseguem atravessar esse processo naturalmente e é justamente por esta razão que precisamos estar atentos.

O luto pode se transformar em doença quando seu processamento se torna mais difícil do que habitual. É o que os especialistas chamam de “luto complicado”. Todo processo de luto tem início, meio e fim, mas não existe um tempo determinado para que essas fases aconteçam. Para alguns pode demorar meses, para outros anos. Um processo de luto é bem sucedido e finalizado quando a pessoa consegue superar e seguir em frente.

Não é que ela vai esquecer o ocorrido, pois as lembranças e a ausência permanecerão. Entretanto, a perda não vai mais ser seu foco principal de atenção e suas atividades profissionais, sociais seguirão sem prejuízo.

Todavia, existem situações em que o sofrimento ocasionado pela perda insiste em se enraizar a ponto de gerar uma perturbação profunda na existência de alguns indivíduos comprometendo diversas áreas da sua vida e da sua saúde.

O luto complicado, a longo prazo, dificulta o retorno à vida cotidiana e pode gerar progressivamente um estado depressivo com forte impacto na vida profissional, nas relações sociais e na família.

E quando este estado se agrava temos o chamado luto patológico onde o sobrevivente enfrenta um processo de depressão grave, podendo ter ansiedade em larga escala, sinais de estresse pós-traumático, delírio, alucinações e comportamento bipolar. Nestes casos a intervenção com medicamentos orientada por profissional competente é recomendada.

Diante de todos estes desdobramentos é imprescindível o cuidado e atenção com indivíduos enlutados e seus processos de administração de luto. Hoje, a literatura é extensa sobre o tema e existem muitos profissionais preparados para lidar com essas questões.

Passar pelo ciclo da perda de forma mais consciente é possível sim! Mas para isso precisamos nos abrir ao diálogo e desmistificar os inúmeros tabus sobre a morte ainda tão latentes na nossa sociedade.

 

 

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