“A dor e o luto”: como sobreviver diante da perda em tempos de tragédias
Por Marcio José dos Santos para o Blog Vittude
Antes de dar início tenho que falar que este é um tema tão delicado e amplo que nos convida inevitavelmente a acompanhar a dor de pacientes e foi para atender aos inúmeros pedidos que resolvi escrever de forma simplificada sobre este tema. “O luto é um processo de violenta dor, com uma dimensão incomparável. Não existe na existência do ser humano nenhum momento que seja pior e mais doloroso do que o luto.”
Como os dicionários definem o luto
De acordo com o dicionário Oxford, o termo luto significa “a expressão de tristeza, ou pesar, pela morte de alguém”. A palavra em português tem origem no termo em latim “luctu“, que também era usada para representar a dor e tristeza pela perda de algo ou alguém.
Sendo assim, o luto está relacionado aos sentimentos de extrema tristeza, angústia e saudades provocadas pela perda de alguma coisa ou alguém importante. Vale salientar que, não necessariamente o luto está ligado a morte. Existem outros lutos exemplo: O fim de um casamento, a perda de um emprego, separação de uma pessoa querida, ou seja, são lutos que vivenciamos ao logo de nossas vidas. Neste artigo iremos explorar o luto da morte.
O luto é universal?
Sim. Porém é vivido de formas diferentes, isso vai de acordo com as questões culturais de cada povo. Os rituais são muito diversificados. Também estão entrelaçados com as questões religiosas. Por isto, o luto vivenciado no Brasil, é bem diferente de outros países. Por exemplo, existem culturas que o luto é um rito de passagem comemorado por dias ou até semanas, no ocidente grande parte dos países adotam a cor preta para representar este período de luto. No entanto, países asiáticos com: China, Japão e Coreia, o luto é representado pela cor branca e como falei a questão ritualista é bem variada. Cada um com sua forma peculiar de despedida de seus mortos.
É possível fugir do luto?
Não. Nós não podemos negar a morte, mas quando ela aparece ela é avassaladora. Ela é a cisão, a ruptura das estruturas de vínculos. A morte é enfrentar o irrevogável e o definitivo ato da final da existência deste ser neste plano.
Sobre luto e suas fases por Elisabeth Kübler-Ross:
Tomarei como base está maravilhosa escritora que fala sobre o luto. E não mencionar Kübler-Ross seria muito superficial de minha parte. Porque vejo na prática, seja na clínica ou em outros ambientes, as fases de Ross se fazendo presente nos momentos de luto. Serei bem resumido, caso tenham interesse existem livros que indico sobre este tema, como por exemplo : “Sobre a morte e o morrer”. Este é obrigatório. Bom, vamos voltar as fases ou os estágios do luto, que são cinco:
- Negação
- Raiva
- Barganha
- Depressão
- Aceitação
Negação
Está marcada como o primeiro estágio. Geralmente é quando recebemos a triste notícia. Esta fase aparece logo após a notícia sobre a morte. É como uma defesa natural da nossa mente diante de um impacto emocional tão grande. A negação é também uma forma de lidar com a situação.
Raiva
Nesta fase a pessoa enlutada deixa de negar os acontecimentos, porém não admite. É bastante comum que nesta fase pessoas experimentem uma raiva blasfemática diante da perda. Esta fase seria repleta de ressentimentos, quase como de uma criança que sente raiva por ter sido deixada de lado.
Barganha
Esta fase seguinte é constituída pela barganha. Questões de fé são muito frequentes nesta período. Há uma espécie de negociação com a fé. É bem comum em pacientes que já estão em seus últimos momentos aqui. É comum ter um forte apelo religioso, de que se pedir com fé, a perda será desfeita. Para isso, são feitas inúmeras promessas ao ser supremo de sua fé. Essa fase tende a ser um pouco desconhecida e ignorada, mas é frequentemente vista em pessoas em luto ou pacientes de doenças terminais.
Depressão
A fase por seu próprio nome já é bem sugestiva. Diante da verdade, a pessoa tem uma queda emocional imensa seguida de uma tristeza aguda e muitas vezes inicia-se um processo de isolamento, acompanhado de vários pensamentos negativos. Devido a este sentimento de tristeza, é bem comum o enlutado deixar de lembrar dos momentos felizes e mergulhar em uma saudade que vai machucando ao longo deste processo.
Aceitação
Este é último estágio do doloroso percurso do luto. Nessa fase o enlutado começa a se reorganizar e admitir a realidade dos fatos. É ele quando começa a dar novos sentidos para sua dor. Vale salientar que, ele pode travar em uma das fases ou até mesmo ter um efeito bumerangue, voltando para fases anteriores.
Obs: No momento que este luto não é bem vivenciado ele pode vir a ter complicações, migrando para o que os especialistas chamam de luto “complicado” ou luto “mal elaborado”. Dessa forma, aumentam-se as possibilidades de adoecimento, ou seja, um luto patológico, trazendo outras complicações a pessoa.
O luto é uma doença?
Apesar de estarmos falando diretamente de uma enorme dor psicológica vale salientar que, o luto não é classificado como um transtorno mental ou doença. Isto não quer dizer que, dispense cuidados por um profissional, muito pelo contrário é um momento que vai depender muito da resposta desta pessoa a tudo aquilo que ela está vivenciando e a forma de como ela está conseguindo superar este momento delicado.
Muitas vezes uma psicoterapia pode ser um aliado incrível para esta pessoa. Tudo vai depender de seu comportamento e se ela está dando sinais de isolamento ou se o luto já está começando a interferir na sua vida pessoal. Alguns indicativos dá sinais que esta pessoa pode estar necessitando de ajuda. Sua rede de apoio deve ficar atenta. Vamos aos sinais:
- Isolamento;
- Insônia;
- Irritabilidade / agressividade;
- Medo de ficar sozinha;
- Depressão.
Estes são apenas alguns sinais. Por isto, é importante que familiares e amigos fiquem atentos. Caso notem alguns dos sinais acima, levem de imediato para um acompanhamento psicológico. Isso fará total diferença neste momento.
Como posso sair do luto? Qual a duração do luto?
É importante respeitar o tempo de cada um, está pessoa irá necessitar assimilar sua perda, chorar o que tiver de chorar! Chorar “SIM” e, por favor, não venham com essas palavras tipo: “Não chore!”, “Vai dar tudo certo!”. O enlutado tem todo direito de chorar, se você não pode chorar com ela, silencie e acolha. Aos poucos ela vai buscar seus recursos internos para deixar o sofrimento intenso. Como falei, cada um vai responder no seu tempo de luto. É importante um acompanhamento para que ela mesma comece uma elaboração, uma reestruturação emocional. Um acompanhamento por um profissional da psicologia ajudará bastante dando um novo sentido há várias questões.
Não existe um tempo determinado de duração para o luto. A dor é uma coisa muito pessoal. Cada pessoa irá vivenciar de sua forma, na sua intensidade. Pode algumas semanas ou até alguns meses. Realmente vai depender de uma pessoa para outra.
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