A invenção do réveillon

Por Marcos Pinagers no Facebook

 

Desde que minhas filhas eram pequenas, passamos o réveillon na praia – a mesma praia todos os anos, a praia onde passei meus verões de criança, onde cresceram também minhas filhas, rodeadas de tatuíras, gaivotas e águas vivas. Todo réveillon acontece o mesmo: jantamos, vemos um filme, minha esposa dorme, e vamos pra praia ver os fogos.
Ao nosso redor, as pessoas estão de branco, com suas garrafas de espumante, algumas jogam flores no mar, outras pulam ondas. Perto da meia noite, contagem regressiva, estouram os fogos, feliz ano novo. Na caminhada de volta pra casa dizemos “feliz ano novo” para todas as pessoas, que geralmente respondem. Os que não respondem sabemos de onde são.
Júlio César, que era de Roma, inventou o primeiro de janeiro. Antes disso, o ano começava em março. Daí os nomes setembro (sétimo mês), outubro, novembro e dezembro (mês dez, o último). Povos diferentes comemoravam o ano novo em momentos diferentes. Ainda hoje, bilhões de muçulmanos, chineses e milhões de judeus comemoram o ano novo em datas diferentes. O ano novo é, portanto, uma imaginação.
Portanto, me intriga. No fim do ano estamos cansados. Dia 31 de dezembro, gritamos “vai embora ano velho”, xô exaustão. Depois da virada, dia primeiro de janeiro, estamos renovados. Prontos pra mais um. Sorridentes. Dispostos. Mas o primeiro de janeiro não existe. É uma invenção. É um acordo que fazemos com nós mesmos.
Dia primeiro de janeiro acordamos. Vamos à praia. Contamos para a minha esposa como foi a virada. Brincamos o dia todo. No dia dois de janeiro, repetimos. É assim por diante. De noite, antes de dormir, exaustos. De manhã, renovados. Todo dia é um pequeno réveillon.
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