Após a morte o que fazer com o corpo: enterrar, cremar, doar ou virar diamante?

Por Nazaré Jocobucci para Blog Perdas e Luto

“A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais” (Epicuro)

‎A morte visitará a todos nós em um determinado momento. Por isso, seria interessante nos preparamos para esta visita. Há aspectos práticos que a envolvem e lidar com eles num momento de extrema fragilidade psicoemocional pode se tornar desconfortável para a pessoa enlutada. Então, seria interessante contarmos para as pessoas em quem confiamos como queremos que seja tratado o nosso corpo após a morte. Dizer para os familiares o que gostaríamos que fosse feito durante e após o processo de morte e falar do que acreditamos que vai acontecer conosco depois da partida pode nos auxiliar a desmistificar o “fantasma” chamado morte. Contudo, isto só poderá ocorrer quando a família começar a falar sem reservas sobre a morte. Acredite, esta conversa pode ser esclarecedora.

Minha caríssima amiga Vanessa Karam já manifestou em suas diretivas antecipadas de vontade que deseja ser cremada e que suas cinzas virem fogos de artifício. Uma opção criativa e que tem tudo a ver com os estilo de ser de Vanessa. Eu também já manifestei meu desejo em relação ao destino do meu corpo – quero que seja doado para uma instituição de ensino. Eu sou claustrofóbica e, dentro do meu código de crenças, jamais suportaria ficar dentro de uma caixa de madeira lacrada, com terra por cima e cimentada. Seria sufocante demais. Por isso, a opção de doar meu corpo me deixou mais confortável no meu pós morte. Outra questão que foi determinante na minha escolha se refere à parte ecológica. Isso porque tanto o enterro como a cremação com fogo usam em excesso os recursos naturais do planeta e geram impactos ambientais sérios. Quando somos enterrados, usamos os recursos do planeta uma última vez – com a madeira do caixão, o algodão do forro, a pedra da lápide, além de outros recursos. A cremação também tem impacto ambiental. Para queimar um corpo, o equipamento crematório produz calor suficiente para aquecer uma casa durante uma semana congelante de inverno.

Hoje temos algumas alternativas para além do enterrar ou cremar. A própria opção de doação do corpo para a ciência começa a ganhar alguns adeptos. Ao doar seu corpo você está contribuindo para a formação de profissionais da saúde que precisam entender a anatomia humana a fundo e assim, garantir uma vida melhor para as pessoas que continuam a usufruir de uma vida. Essa doação é permitida por lei em diversos países e é denominada “disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte para depois da morte”. Como doar para a ciência? Várias escolas da área da saúde possuem programas para doação de corpos. É preciso ir até a instituição escolhida, assinar uma declaração de vontade e reconhecer a assinatura deste documento em cartório. Uma via deve ficar na instituição e outra com o doador.

Agora, se você deseja ser cremado e de alguma forma diminuir o impacto no meio ambiente, então, você pode optar pela cremação ecológica. Já pensou em virar uma árvore quando partir? Como? Simples! As cinzas são depositadas em uma urna ecológica, feita de fibras de coco, que contém também sementes de alguma espécie de árvore nativa da Mata Atlântica. Com o passar do tempo, a estrutura se biodegrada e as cinzas ali colocadas viram adubo para a terra onde a planta se desenvolverá. Esta é a proposta do Cemitério e Crematório Horto da Paz, localizado na cidade de Itapecerica da Serra, em São Paulo.

Nesta linha ecológica os designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel criaram uma forma sustentável de o corpo falecido dar continuidade ao ciclos da vida e da natureza. Eles criaram uma cápsula orgânica e biodegradável capaz de transformar os restos mortais em nutrientes para uma árvore. Ao invés de ser colocado em um caixão, o corpo é posto dentro de uma cápsula orgânica em posição fetal. Em seguida, o corpo é enterrado embaixo de uma árvore, escolhida previamente pelos familiares ou pela própria pessoa, e servirá como matéria orgânica para a planta. Parentes e amigos cuidam desta árvore após a morte do indivíduo. Os cemitérios deixariam de ser lugares cheios de túmulos para virarem uma floresta sagrada.

Também há outras opções mais criativas e ousadas para o fim do nosso corpo. Outro dia recebi um e-mail da Casa Funerária São João Batista, localizada na Barra da Tijuca/RJ e administrada pelo Grupo Riopae, que em parceria com o laboratório Heart in Diamond, com matriz no Reino Unido e filial na Califórnia, possibilita a produção de joias a partir de cinzas de entes queridos que foram cremados. Segundo Chaves de Mello, um diamante de cremação é feito usando a fonte pessoal de carbono de uma pessoa, o que o torna uma lembrança única do ente querido que morreu.

Como foi possível observar hoje há várias possibilidades para a destinação final do nosso corpo. Estas variam das tradicionais até as mais criativas, dependendo tão somente das suas preferências.

E aí, você já pensou no destino que quer dar ao seu corpo quando morrer?

Quer conferir outras publicações do Blog? Clique aqui.

Compartilhe