Coluna Archimedes: Quem conheceu Pelezinho?
Por Archimedes Azevedo Raia Junior para Social Bauru
Ao longo dos seus 123 anos, a cidade de Bauru conheceu várias figuras folclóricas e, dentre elas, gostaria de abordar uma em especial, o famoso Pelezinho, que circulava cotidianamente pelo centro da Capital da Terra Branca, nos idos anos 1970.
Nestes anos, a região central de Bauru era o “point”, com um comércio pujante, salas de cinemas, cafés, rádios, padarias, armazéns, bares, lanchonetes, o movimento gerado pela estação ferroviária e também o “terminal de ônibus intermunicipal”, localizados na praça Machado de Melo. Era comum que seus cafés atraíssem pessoas da sociedade bauruense, tais como políticos, artistas, funcionários públicos municipais, da Rede Ferroviária Federal etc., para comentar fatos locais e nacionais. Ao final das aulas, diariamente, era comum que os estudantes da região central se dirigissem principalmente à rua Batista de Carvalho. Os rapazes ficavam encostados nos automóveis estacionados vendo as meninas desfilarem.
Neste contexto, transitava pelas ruas do centro Leonel Batista, o Pelezinho, que geralmente, fazia ponto, como vendedor de bilhetes de loteria, na esquina das ruas Rio Branco e 1º de Agosto. Mas não ficava só por aí, ele se deslocava por todo o centro, como personagem local, conhecido de todos.
Pelezinho era negro, magro, corcundo, com dificuldades de locomoção, provavelmente devido a paralisia infantil. Mesmo com mobilidade reduzida ele demonstrava muita alegria de viver, com trejeitos próprios, e com uma maneira bastante peculiar de enfrentar as adversidades que a vida lhe impunha. Ele também gostava de pintar telas, apoiadas em cavaletes junto ao meio fio. Ensaiava, às vezes, entoar um samba de sucesso.
Brincalhão, ele causava medo às crianças e procurava assustar e correr atrás das meninas imitando os latidos de um cão. Constantemente, Pelezinho era reproduzido pelas charges dos jornais bauruenses, porém como “personagem de fundo”, um cidadão que habitava o centro, mas não era central, apenas um personagem figurante da paisagem do centro comercial.
Pelezinho era amado por uns e odiado por outros. Era irreverente e, muitas vezes, provocava a ira de pessoas importantes da sociedade bauruense da época.
Nos anos 1970 ocorreu na cidade o assassinato da menina Mara Lucia Vieira, o que provocou uma comoção local, com repercussão nacional. Nesta mesma época, porém sem poder precisar a data, ocorreu o assassinato de Pelezinho; no entanto, tal como ocorreu no caso Mara Lucia, os dois assassinatos permanecem até os dias atuais como sendo de autoria desconhecida.
Muito se especulou a respeito, mas é provável que a verdade nunca virá a tona. Apesar da sua alegria e espírito brincalhão, Pelezinho sofreu com os preconceitos da época e procurava levar a vida como lhe era possível. A impressão que ficou é que ele foi e será um dos personagens protagonistas do glamour do centro comercial bauruense nos anos 1970. Que Deus em sua infinita misericórdia possa ter acolhido o Pelezinho no bulevar celeste.
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