Perder um ente querido sempre é algo que provoca muita dor em um. A veterinária e terapeuta Dra. Melanie Marques mostra as semelhanças no processo de luto quando a perda envolve um animal ou uma pessoa próxima.
Existem diferenças no processo de luto entre perder pessoas e animais?
Quem opina sobre o assunto é a veterinária e terapeuta Dra. Melanie Marques, que nos últimos dias teve que passar pela perda de um de seus pets. “Recentemente perdi uma akita de 17 anos que nasceu em minha casa. Eu tinha 20 anos quando ela chegou, ou seja, convivi minha vida adulta inteira com ela. Quando comuniquei sua partida às pessoas, o que mais ouvi falar foram frases como ‘ah, mas já era velhinha, né?’, ‘isso logo passa e ficarão as boas lembranças’, e ‘ela parou de sofrer, está em lugar melhor que aqui.”
Além disso, “o animal pode suprir o afeto ou a presença de uma mãe ou um pai, pode simular os cuidados que a pessoa teria com um filho que ela não pôde ter, ou preencher o vazio de um casamento que vai mal ou as lacunas de uma solidão desconhecida pela própria pessoa”.
Diante disso, Dra, Melanie pondera que dizer adeus a um companheiro de quatro patas pode sim ser levado tão a sério como a morte de um ente querido. “Rituais de passagem, como velar o corpinho, se despedir, homenagear a vida daquele que dedicou sua vida a amar e brincar com seu tutor aqui na terra pode minimizar a dor, dando um espaço para a morte ser compreendida e um tempo para ser elaborada pela família. Inclusive as fases do luto, como negação, raiva, aceitação, por exemplo, são completamente normais quando se refere a perda de um animal”.
Quem também merece atenção especial nessas horas, reforça a terapeuta, são as crianças. “Explique a ela a morte do seu pet como uma passagem do mundo material para o espiritual, não minta a ela dizendo que o animal viajou ou simplesmente sumiu. Isso não vai ajudar em nada, e só pode piorar as coisas”.
Afinal, a banalização da dor de uma pessoa que sofre por um animal é cruel. “Fica um vazio na rotina, especialmente se esse bichinho demandava cuidados extras, como uma dependência humana para comer, andar ou fazer suas necessidades. Os afagos, os choros e arfados ausentes nos mostram uma pequena fração do que é a vida, que é a partida e a ausência silenciosa de quem amamos. Sentimos falta até das coisas que nos irritavam, pensamos se fomos bons pais, se poderíamos ter ido além, enfim, se poderíamos ter feito mais.”
“Meu conselho para quem está com seu pet é bem simples: Deite-se ao lado dele e veja o mundo da perspectiva dele. Converse e fale com ele, certo de que ele entenderá cada palavra. Se ele quiser cheirar, deixe ele. Se ele quiser correr, vá com ele. Viva os bons momentos com eles, afinal, eles vivem o presente”, completa Dra. Melanie.