Expressões do Adeus: Como Lidamos com o Luto

Por Helena Nascimento para A Gazeta Net

É inevitável não passarmos pelo processo de luto, já que a morte é um processo que faz parte da vida do ser humano, desde os primeiros anos de vida, seja pela perda de um ente querido, de um animal, ou mesmo de um personagem fictício. Considerando que a morte é um evento que de certa maneira, faz parte da experiência de nossas vidas e que o luto ocorre principalmente como uma resposta à perda de alguém, torna-se crucial compreender o processo de luto e as diversas ocasiões que o influenciam. Isso possibilita uma apreensão mais abrangente da natureza humana, considerando os diversos elementos que a compõem.

Por que tememos falar sobre a morte, já que estamos sujeitos a ela a qualquer momento? Segundo Nogueira (2021, p.76)  “Constantemente reinterpretada pelo mundo dos vivos, a morte move-se no tempo e no espaço, assume e comunica coisas diferentes a depender do modo como pensamos a respeito dela na mediação com a vida cotidiana”. Essa frase sugere que a compreensão da morte está em constante transformação e é influenciada pela perspectiva dos vivos. O significado da morte é dinâmico, variando conforme o contexto temporal e espacial. A maneira como percebemos e refletimos sobre a morte em nossa vida diária afeta a forma como ela é interpretada e comunicada, resultando em diferentes significados e concepções, dependendo do ponto de vista e das atitudes em relação a ela.

De que forma lidamos com o luto? Outra pergunta intrigante, percebida e interpretada de diversas maneiras, pois enfrentamos essa situação de formas distintas. Nunca estamos preparados para receber notícias tristes sobre o falecimento de alguém, mesmo que essa pessoa esteja enfrentando uma condição sem possibilidade de recuperação. A morte é um evento instantâneo, e o processo de luto é composto por várias etapas: 1° negação, 2° raiva, 3° barganha, 4° depressão e 5° aceitação. Embora esse tema seja frequentemente encarado como tabu, é essencial abordá-lo para que as pessoas possam enfrentar esse desafio quando necessário.

Rememorar aqueles que compartilharam conosco o caminho da vida e já seguiram adiante é uma prática presente em diversas culturas, cada uma com suas características singulares. Como sabemos, para os seguidores do cristianismo, a morte não representa o término definitivo e não necessita ser vista como algo negativo. Apesar disso, o Dia de Finados, ocorrido em 2 de novembro, é dedicado ao recolhimento, reflexão, oração, é o dia que nos direcionamos ao cemitério para levar flores e acender velas para aqueles que partiram.

Curiosamente, os mexicanos transformam o Dia dos Mortos em uma celebração vibrante, pois a crença permeia que os falecidos retornem para visitar seus entes queridos nos dias 1 e 2 de novembro. Os mexicanos acreditam que seus entes queridos passaram para “outra vida”, como exemplo posso citar um filme (Viva – A vida é uma festa, de 2017) que representa muito bem essa tradição. É uma festa colorida, celebrada de forma alegre, com comidas e bebidas alcoólicas, realizadas nos túmulos dos cemitérios ou nas próprias casas.

Na perspectiva mexicana, a vida e a morte não são encaradas como opostas, mas sim como um contínuo que se desenrola ao longo da existência humana, começando com o nascimento e concluindo-se com o falecimento. E na nossa perspectiva, como a morte é encarada? Seguimos com medo, receio sobre quem próximo de nós irá partir, na realidade, não estamos preparados para tal acontecimento.

A celebração da festa do Dia dos Mortos no México é vivenciada de maneira completamente singular, ao contrário da perspectiva moderna que cria o mito da vida eterna e da juventude. Na tradição mexicana, a morte não é encarada como um choque, um evento traumático ou um vazio completo. Digo que chega a ser encantador conhecer outras culturas e saber que lidam com a morte de forma diferente de nós, mesmo tendo consciência acerca da realidade a inquietação diante da morte segue presente.

Nossa mortalidade deriva de nossa composição temporal e histórica. Não podemos negar que a vida e a morte estão entrelaçadas. Sabemos que, como seres humanos, nascemos e morremos, o que nos diferencia dos demais seres, pois possuímos a consciência de nossa finitude. A perda de um ente querido me faz refletir que nosso projeto de vida não é individual; é um estímulo para superarmos o individualismo. A morte é uma etapa no ciclo infinito da existência.

REFERÊNCIAS:

[1] Os 5 estágios do luto. Disponível em: <https://www.unimed.coop.br/viver-bem/saude-em-pauta/as-5-fases-do-luto-como-lidar-com-este-processo->. Acesso em: 1 fev. 2024.

[2] Viva – A Vida é uma Festa. Disponível em: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-206775/> . Acesso em: 1 de fev. 2024.

[3] NOGUEIRA, Poliana de Melo. Entre as palavras e as pedras: fatos de memória e as vivências tecidas por trabalhadores e trabalhadoras do cemitério São João Batista em Rio Branco- Acre. Dissertação (Mestrado) – Curso de Linguagem e Identidade, Rio Branco – Acre, universidade federal do Acre, ufac, 2021.

[4] Villasenor, R.L. & Concone, M.H.V.B. (2012, agosto). A celebração da Morte no imaginário popular mexicano. Revista Temática Kairós Gerontologia,15(4), São Paulo (SP), Brasil: FACHS/NEPE/PEPGG/PUC-SP

[5] GOMES, Jaqueline Cesário Tenorio. A relação entre o processo de luto e a cultura: um estudo analítico-comportamental.Dissertação (Mestrado) – Curso de Psicologia (U. E. Palmeira dos Índios), UFAL, Campus Arapiraca, Unidade Educacional PALMEIRA DOS ÍNDIOS, Universidade Federal de Alagoas, UFAL, 2022.

[6] BRUSTOLIN, Leomar Antônio; PASA, Fabiane Maria Lorandi. A MORTE NA FÉ CRISTÃ: UMA LEITURA INTERDISCIPLINAR – Curso de Teocomunicação, Porto Alegre, 2013.

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Bacharelanda em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Membro do Centro acadêmico de Bacharelado em História Pedro Martinello.

 

 

A publicação original, você encontra no link abaixo

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