Histórias de Bauru contadas por quem viveu

Por Repórter Unesp

Pontos conhecidos da cidade, como a Praça da Paz e o calçadão da rua Batista de Carvalho, são parte da vida das pessoas que vivem em Bauru.

“Você viu minha Bauru?”, perguntou Zelinda Vieira da Silva, apontando a cidade do seu quintal, não por coincidência no bairro Bela Vista. Mesmo não tendo nascido aqui, a neta de um soldado nazista com uma fugitiva judia se considera bauruense de coração. Quem passa por pontos conhecidos da cidade, como a Praça da Paz e a Praça Ruy Barbosa, às vezes nem imagina que, assim como a história de dona Zelinda, a de milhares de pessoas se confunde com a história de Bauru.

Hoje com mais de 70 anos, dona Zelinda cresceu brincando entre as ruas Rodrigues Alves e Batista de Carvalho, esta conhecida por ser a principal rua de comércio da região. Daquela época, ela se recorda das famílias que formavam sua vizinhança, dos pacientes que vinham das cidades próximas para serem atendidos por seu pai e sua irmã mais velha – primeiros dentistas de Bauru – e dos namoros na Praça Dom Pedro II, atual sede da Câmara Municipal.

A rua do calçadão recebeu esse nome em homenagem a João Batista de Carvalho, um dos primeiros cidadãos de Bauru. O comerciante e ex-vereador havia batizado a via de “Rua dos Esquecidos”, como protesto por não ter sido reconhecido num processo que nomeava as ruas da cidade em homenagem a figuras importantes de sua história recém-começada. Em 1904, três anos após a morte de Batista de Carvalho, o então prefeito Gérson França ordenaria que a rua recebesse o nome do ex-vereador.

Junto do avô de criação, Olympio Batista de Carvalho, ela passeava pela praça Ruy Barbosa ainda criança. “Era espetacular, tinha um largo enorme, cheio de peixes e até com um jacaré. Cheia de árvores belíssimas e gente conversando…”. A praça também servia de entrada para o Automóvel Club, onde a alta sociedade da época se reunia para festas e eventos culturais. “Era o lugar mais chique de Bauru, meu pai levava as filhas em tudo que era evento lá. Ele me colocava na primeira fileira para ouvir a Madalena Almeida Ribeiro, poetisa muito famosa no Brasil. O conservatório musical apresentava as alunas todo ano no clube, eu mesma toquei lá”, ela se lembra.

Hoje, o Automóvel Club está esquecido, é alugado pela prefeitura para os ensaios da banda municipal, mas não possui mais o ar de glamour que permeia as histórias de dona Zelinda. E a praça Ruy Barbosa, que já passou por diversas reformas, está sendo restaurada mais uma vez, com previsão de entrega da obra para setembro deste ano.

Memórias na Praça da Paz

A história de Jonathan Wesley Evangelista está mais ligada à Praça da Paz, na avenida Nações Unidas. Seu pai, Edmundo Evangelista, mais conhecido como Baiano, foi o primeiro carrinho de lanches a ocupar a praça, ainda em 1988. “Meu pai costumava vender lanche em frente à Fundação Educacional de Bauru mas, quando ela acabou em 1988, o Tuga Angerami – que era prefeito na época – falou para o meu pai colocar o carrinho dele lá na Praça da Paz”, conta Jonathan.

Os outros carrinhos começaram a chegar logo depois, mas só tomaram conta da praça mesmo em 1994. “Eu cresci aqui, né? Lembro bem de como era antes. Tinha até carpa ali no laguinho, que hoje está parado e sujo. As cascatas viraram foco de dengue. Nem jardineiro a praça tem mais. Esse relaxo tira muito da vida daqui”, relembra o chapeiro, que é formado em Mecânica Industrial, mas que sempre ajudou o pai no negócio de família.

O artista plástico José dos Santos Laranjeira também deixou sua marca no local. Ele foi o responsável pela idealização e realização da escultura de bronze que ocupa o centro da Praça da Paz. “Meus trabalhos da época chamaram a atenção da comunidade e do prefeito Tuga, que me convidou a criar um projeto para celebrar a vinda do Primeiro Secretário da União Soviética a Bauru”, conta.

A escultura de uma pomba com a asa esquerda quebrada só ficou pronta em 1988, mas Laranjeira acredita que, desde então, ela faz parte do imaginário das pessoas em Bauru. “A arquitetura e a escultura têm o potencial de ser um marco de registro da identidade local. Por isso, nós temos a cidade de Paris identificada por uma torre, Nova York relacionada à Estátua da Liberdade e por aí vai. Os monumentos são marcos de identidade dos locais dentro do âmbito da cultura humana”, afirma o escultor e professor de Artes Visuais da Universidade Estadual Paulista. Ele também é o responsável pela escultura do leão que habita um dos canteiros centrais da avenida Nações Unidas.

Nascidos aqui, como Jonathan e o professor Laranjeira, ou adotados pela cidade, como dona Zelinda, todos eles fazem parte dos 119 anos da história de Bauru, que se unem com a história particular de seus habitantes de maneira única, para sempre ligando suas vidas com a cidade.

Reportagem: Jonas Lírio
Produção multimídia: William Orima
Edição: Lígia Morais

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