Luto pela perda de morte de animais de estimação

Por Andréia Correa para andreiacorreapsicologa.com.br

O luto pode ser descrito como “um conjunto de reações a uma perda significativa” ou como “dor emocional de ter perdido algo ou alguém significativo de nossas vidas”.

Na sociedade, o luto é relacionado à morte, mas este processo pode ser desencadeado frente a vários tipos de perdas, como a perda de um trabalho, um divórcio, da rotina, etc. O luto diante à ruptura de um vínculo é natural. Mesmo sendo doloroso, precisa ser vivenciado integralmente para ser saudável.

Existem lutos “não reconhecidos” e “não autorizados”. Luto não reconhecido ocorre quando este não pode ser expresso ou quando não é socialmente reconhecido. Neste caso, a sociedade inibe o luto devido a “normas”, explicitas ou implícitas, que dizem quem, quando, por quem, onde e como se enlutar.

O luto não autorizado acontece quando o enlutado não permite a expressão do seu próprio luto, pois este não é reconhecido e/ou não há acolhimento para a sua dor.

O luto pelo animal de estimação pode se encaixar nestes dois tipos de luto. Como dito anteriormente, se o luto não for vivenciado pode tornar-se um “luto complicado” ou gerar manifestações psicossomáticas.

Segundo um estudo realizado pelo Canadian Veterinary Journal, 50% das pessoas que perderam seu animal de estimação dizem que a sociedade não avalia que essa morte seja digna de um processo de luto.

child-1867463_1920Nem todo mundo tem um animal de estimação e isso dificulta que as pessoas tenham empatia em relação a esses casos, também porque se subestima o vínculo emocional que a pessoa pode ter com o animal.

Nesse caso, como não é socialmente aceito que uma pessoa possa estar triste pela perda do pet, a manifestação normal das fases é interrompida gerando complicações ao enlutado. Por um lado, porque as pessoas ao seu redor não entendem e porque o tutor não se permite estar triste, pois ele também faz parte da sociedade e aprendeu que sofrer por um pet não é permitido.

Qual a importância da elaboração do luto de um pet?

Os cães, gatos, entre outros animais ganharam um novo significado na vida de seus donos e na sociedade. Até um tempo atrás, os animais eram criados nos quintais das casas, mas hoje dividem rotinas, e podem, inclusive, dormir nas camas com os donos. De acordo com levantamento da Pesquisa Nacional de Saúde, feito pelo IBGE, 44,3% dos lares brasileiros têm a presença de ao menos um cachorro.

Esse espaço, ocupado pelos animais de estimação na vida dos donos, reflete diretamente no processo do luto no caso da morte dos pets.

Katcher e colaboradores (1983, citado em Archer, 1996) construíram um questionário contendo sentenças que indicavam um possível apego com um cachorro de estimação, como, por exemplo, carregar a fotografia do cachorro, deixá-lo dormir em sua cama, frequentemente falar e interagir com ele, e defini-lo como um membro da família.

Os dados indicaram altos níveis de apego entre donos e seus cachorros. Quase a metade definia seu cachorro como um membro da família, 67% carregava uma fotografia dele em sua carteira, 73% deixava eles dormirem em sua cama e 40% comemorava o aniversário do cachorro.

Estudos sobre as reações à perda de um animal de estimação mostram como é forte o apego desenvolvido. Usando o modelo da teoria de apego (Bowlby, 1969, 1973, citado em Archer, 1996), as conclusões são de que o pesar de perder um animal de estimação tem a equivalência de perder uma pessoa amada.

O processo de luto envolve angústia e pensamentos e sentimentos que acompanham o lento processo mental de se despedir de uma relação estabelecida.

Evidências sistemáticas indicam que há claros paralelos entre as variadas reações que as pessoas apresentam seguidamente à perda de um animal de estimação àquelas sentidas por uma perda de um relacionamento entre humanos.

Quando a perda está de acordo com as normas sociais, o luto individual é suportado pela rede social, o que facilita tanto o processo de luto quanto a coesão social. Quando isso não acontece, e a sociedade não reconhece e nem legitima o luto, as reações de estresse podem ser intensificadas, e os problemas relacionados ao luto podem ser exacerbados.

Em caso de animais de estimação, normalmente frases como “Era só um cachorro…” mostram esse não reconhecimento. A morte do animal é tratada como um acontecimento trivial e de pouca importância. Assim, quando um animal de estimação morre, muitos donos estão totalmente despreparados para a intensidade de seu luto, e ficam embaraçados e com vergonha dele.

Não existe um tempo determinado para a elaboração do luto, que pode durar dias, semanas, meses ou anos. Dependerá da relação que o tutor tinha com o animal, da interação da díade, se existia vínculo ou não; da história de vida do tutor em relação às perdas que precederam a do animal; da causa da morte do animal, entre outros fatores.

É importante que o tutor resignifique a dor da perda e procure apoio com profissionais da saúde mental que trabalham com ele no individual ou grupo específico em perdas de pets. Aos poucos a pessoa consegue se reorganizar com novas atividades e projetos. Com isso o que é dor, devagar se transforma em lembranças da relação de amor e reciprocidade.

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