Natal: Celebrando as memórias, as histórias, a esperança

Por Nazaré Jacobucci para Blog Perdas e Luto

“Não queira eu que se apaguem as minhas dores, mas que eu saiba acomodá-las
no meu coração” (Cântico da Esperança – Rabindranath Tagore)

WhatsApp Image 2020-12-22 at 13.11.59Mesmo com tantas transformações em nosso cotidiano, o Natal e o Ano Novo continuam sendo datas muito especiais e, para a maioria das pessoas que vivem no ocidente, um momento de estar com a família e com amigos queridos em comunhão. E este ano, em especial, o compartilhar de afeto com aqueles que amamos, que é a essência do Natal, será o presente mais precioso.

O período natalino, mais especificamente, também pode ser um momento desconcertante e dificílimo de ser vivenciado, principalmente para as famílias que sofreram a perda, recente ou não, de um ente querido, pois esta época também é de nostalgia e recordações. Podemos ser invadidos por uma enxurrada de emoções e sentimentos diante da ausência de alguém que amamos. Também não podemos nos esquecer que há pessoas que morrem, infelizmente, durante o Natal e no Ano Novo.

Muitas vezes, familiares e amigos das pessoas que sofreram uma perda não têm certeza de como agir ou o que dizer para apoiar alguém em processo de luto. Nestes momentos surgem perguntas tais como: Como vou lidar com isso? Como devo agir?

A própria pessoa enlutada muitas vezes se sente perdida diante do turbilhão de emoções que está vivenciando: Como vou fazer tudo que eu preciso fazer quando estou tão triste? Será que serei capaz de sobreviver a esta época do ano?

É claro que precisamos sempre ter em mente que não existe um modelo único para todas as pessoas que perderam um ente querido. Cada indivíduo sentirá a perda de uma forma distinta e cada membro da família demonstrará a sua dor de uma forma diferente. Abaixo seguem algumas das minhas reflexões/recomendações para que a pessoa enlutada e familiares possam vivenciar este momento tão especial do ano.

Para as pessoas em processo de luto

> Tudo bem não estar bem!

> Desobrigue-se de cumprir as intermináveis listas de deveres que esta época do ano nos impõe. Pense no que é melhor para você e sua família.

> ‎Cuide-se, pois Natal pode ser uma época de excessos com a comida e com o álcool. Usar álcool para escapar da dor da perda só traz alívio temporário. Tente manter padrões regulares de dormir e comer. Sair e desfrutar do ar fresco, num local seguro e arejado, pode ser uma ótima maneira de relaxar.

> Permita-se sentir a dor. Permitir talvez seja a palavra-chave. Permita-se sentir tristeza num momento em que todos estão alegres, afinal você está vivenciando a ruptura de um vínculo. Acolha seus pensamentos e sentimentos. Não tente racionalizar emoções tão fortes. Elas ocorrem porque perdemos, fisicamente, alguém que amamos, mas esta pessoa ainda está viva em nossos pensamentos e memórias. Fale das suas emoções, dos seus sentimentos e inquietudes.

  • Não há problema em reconhecer isso e reconhecer sua dor, apatia e tristeza. Você não precisa esconder seus sentimentos para o benefício de outras pessoas. Você não é responsável pela felicidade de nenhum outro adulto.
  • Permita-se dizer não. Você não tem a obrigação de aceitar todos os convites. Principalmente para participar das reuniões online. Faça o que for possível e o suficiente. Faça tão somente aquilo que fizer sentido para você e lhe trouxer um significado.
  • Encontre uma forma, mesmo que simbólica, de recordar o ente querido que morreu. Procure criar uma maneira, um espaço ou um momento e tempo específico para rememorar a pessoa que morreu.
  • Invente novas tradições. Às vezes, mudar as tradições pode ser uma decisão mais acertada. Esse ano em particular, há de termos criatividade para reinventarmos uma nova maneira de estarmos conectados com quem amamos.
  • Permita-se sentir alegria. Às vezes, quando estamos sofrendo, podemos ter um momento de leveza. Uma coisa engraçada acontece e nós sorrimos. Deixe a alegria e o riso acontecer! Não repreenda a si mesmo por se sentir feliz em seu processo de luto.
  • Gratidão! Encontrar algo para ser grato não apaga os pensamentos, memórias e emoções difíceis que você está experimentando, mas pode simplesmente ajudar a equilibrar sua perspectiva sobre o viver. Equilibrar sua perspectiva é importante. Encontrar gratidão não precisa ser complicado. É simples, na verdade. Tudo que você tem que fazer é prestar atenção à sua volta. Com certeza você encontrará algo para ser grato, como um sorriso de uma criança, uma memória feliz, uma xícara de chá quentinha, um banho reconfortante, ou por poder sentir o cheiro de uma flor.

Para os familiares e amigos de pessoas em luto

> Seja compreensivo. Eu penso que o primeiro quesito quando estamos ao lado de uma pessoa enlutada é que sejamos compreensivos e solidários com a dor do outro. Então, ofereça-se para ajudar com alguns afazeres típicos dessa época, tais como, por exemplo, cozinhar um prato especifico para o almoço de Natal. Esta é uma ótima maneira da pessoa se sentir acolhida e saber que você se preocupa com o bem-estar dela.

> Esteja disponível para ouvir a pessoa. Não evite alguém só porque você não sabe o que dizer. A escuta ativa dos amigos e da família é um passo importante para ajudar alguém a lidar com a dor e os sentimentos da perda. Deixe-os compartilhar suas emoções e sentimentos. É de extrema importância que o indivíduo se sinta acolhido em seu momento de dor e angustia.

Enfim, o Natal será para todo o sempre diferente depois de uma perda significativa. Faz parte do processo de luto compreender as emoções que estas datas nos proporcionam e, na medida do possível, se reorganizar emocionalmente para vivenciá-las. A morte de um ente querido implica necessariamente numa profunda mudança de paradigmas em nossas vidas e na forma como vamos continuar a caminhada. Talvez você encontre uma nova forma de vivenciar estes momentos, pois a elaboração do luto passa pela assimilação da ausência com a celebração com aqueles que estão vivos e fazem parte da nossa existência.

Uma ótima celebração da esperança a todos!

Nazaré Jacobucci
Mestranda em Cuidados Paliativos na Fac. de Medicina da Universidade de Lisboa
Psicóloga Especialista em Perdas e Luto e Psicologia Hospitalar
Psychotherapist Member of British Psychological Society (MBPsS/GBC)
http://www.perdaseluto.com

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