O luto tem fim?
Por Patrícia dos Santos para Site Jornal Café Impresso
Vamos buscar responder essa pergunta entendendo primeiramente o que é o luto. Portanto, vamos partir da definição de que o luto é uma resposta universal, natural e esperada frente a um rompimento de vínculo significativo, ou seja, enlutamos por quem e aquilo que nos é valoroso. Essa resposta a que atribuímos ao luto envolve todas as nossas dimensões: psicológica, biológica, familiar, social, espiritual.
A morte nos atinge no lugar onde mora o amor, aquele amor que supomos e acreditamos que só existe na presença física, na companhia dos passeios, nas longas e demoradas conversas, no apego, no afeto, porque é assim que aprendemos a nos vincular e amar até então, e diante da partida, é como se houvessem estilhaços da dor por todo o nosso SER. Você é a própria dor por um tempo.
Quero deixar bem claro aqui que o luto é uma resposta universal, todos nós experimentamos e vivenciamos lutos, mas as reações e as formas de enlutar-se são muito individuais e singulares isso quer dizer que não existem regras a seguir, um jeito certo, tampouco fases para ultrapassar, pois o luto é mais parecido com uma montanha russa, oscilatório e dinâmico… do que com a linearidade previsível de etapas a serem seguidas.
Estudar luto há mais de uma década, e cuidar de pessoas enlutadas no acolhimento e suporte no luto do Plano Boa Vida, e claro com as minhas próprias experiências de perdas até hoje, consegui entender que tem o momento do luto onde a dor emocional é sentida de forma intensa, devastadora, desorganizadora, e o enlutado é tomado pela falta de sentido, de qualquer energia e investimento na vida, é o luto agudo.
À medida que o enlutado encontra caminhos de expressão, de cuidado, de validação que é ter essa perda reconhecida, ele vai dando contornos ao processo; de modo muito individual, ele passa a integrar essa perda como parte da sua vida, da sua jornada… e nessa travessia a resposta nesse processo vai se tornando suportável e adaptativa.
O que não quer dizer que a dor nunca mais retorne ou venha visitar, há sempre “gatilhos” que nos conectam com a saudade, com a presença dessa ausência, de modo que datas importantes, cheiros, lugares, sabores, momentos, podem despertar essa dor, mas agora talvez você consiga lidar melhor com ela, porque você percebeu que deu conta ontem, antes de ontem, na semana passada… e aprendeu a sentir a tristeza da ausência física sem que a DOR faça morada.
O luto é transição! Requer reorganização, adaptação, integração, busca por novos caminhos…onde esse só se faz caminhando. Luto é movimento! Aprendemos a viver com a presença simbólica que permanece dentro de cada um de nós, passamos a ser guardiões das lembranças, e nos encontramos na saudade e no amor.
Por: Patrícia dos Santos – Psicóloga e Tanatóloga
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