“Pieces of a Woman”: filme da Netflix aborda o luto de uma mulher que perdeu um filho com sensibilidade e complexidade

Por Paula Jacobs para Revista Glamour

Alerta gatilho: se você for mãe ou tiver passado por alguma experiência de aborto/perda de um filho, o conteúdo do filme citado a seguir é extremamente sensível. Pieces of a Woman era uma das grandes estreias da Netflix para 2021 – e já chegou chegando. Na lista dos mais assistidos desde sexta-feira (08.01), o filme escrito por Kata Wéber (a partir de sua própria experiência) e dirigido por Kornéi Mundruczó aborda o luto de uma mulher, que perdeu um filho após o parto, com muita sensibilidade e complexidade. Não bastasse a qualidade cinematográfica, a produção original do streaming ainda encanta a audiência pela atuação de tirar o fôlego de Vanessa Kirby.

WhatsApp Image 2021-01-18 at 13.12.40 (1)A atriz britânica, conhecia pelo papel como Princesa Margaret em The Crown, vive Martha Weiss, mulher, profissional, judia, dentro de um relacionamento aparentemente saudável com o companheiro Sean (Shia LaBeouf). O casal espera ansioso o nascimento da primeira filha, como mostram os minutos iniciais do filme. Em uma sequência de arrancar o coração de qualquer ser humano, o diretor coloca espectador e personagens frente a frente com uma das cenas mais corriqueiras e menos bem representadas do cinema: um parto. Martha decide ter a filha em casa, com uma parteira especializada. Não é spoiler: depois de dor (muita dor), incômodo, enjoos e dificuldades, ela perde a filha após o nascimento.

É uma cena extremamente intensa, da cinematografia ao conteúdo. Não estamos acostumados a ver partos assim, tão honestos, tão crus. É o desconforto, a tristeza, a esperança. A dor, o sentimento, o amor. A perda. Tudo feito de forma tão poética, e sem romantizar — nível de dificuldade altíssimo. Sorte do espectador que essa mesma potência fílmica segue ao longo das duas horas restantes, num processo muito íntimo de estar “ao lado” de uma mulher que, infelizmente, perde seu bebê.

O companheiro, a família, os colegas de trabalho, todos querem ajudar, mas ninguém entende o processo de luto de Martha. E a mulher, mais uma vez, fica exposta aos olhares e julgamentos — nem na morte nos deixam em paz. É difícil, cada um tem o seu jeito de sofrer, de amar, de beber, de gozar. Com o luto não seria diferente. Mas é o corpo dela, o útero dela, a vagina dela, o psicológico dela. E de mais ninguém. Até as boas intenções de ajuda que surgem querem, na verdade, atravessar Martha, resolver logo a situação, voltar ao normal, “move on with your life”. Eventualmente ela vai, mas no tempo que ela precisa que seja.

Lindo mesmo é ver essa intimidade feminina cheia de camadas ser tão bem conduzida por todos os envolvidos em Pieces of a Woman. Lindo também ver uma mensagem de empatia tão clara com o outro, em tempos tão malucos como os de agora. Chorar será inevitável, já adianto. Mas é pela união entre a beleza sutil da experiência humana e o impacto do conteúdo construído com maestria. Dê o play!

 

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