Quando não há mais nada a tentar

Por  MedScape.com

Oncologistas falam sobre como lidar com o luto

 

Em janeiro de 2023, o Dr. Mark Lewis foi confrontado. A sócia dele no consultório não aguentava mais. Ela o acusou de amenizar prognósticos e deixar que ela contasse toda a verdade aos pacientes.

A realidade é que ele simplesmente não sabia lidar com o luto.

O Dr. Mark já conhecia bem a dor do câncer muito antes de se tornar oncologista. O pai dele morreu de uma síndrome rara de câncer hereditário quando ele tinha apenas 14 anos. A doença, que causa o crescimento de tumores nas glândulas endócrinas, pode ser difícil de identificar e, se descoberta tardiamente, pode ser fatal.

De certa forma, a carreira do Dr. Mark tratando pacientes com câncer avançado nasceu dessa primeira perda, com o médico se dedicando a ajudar aqueles que enfrentam situações semelhantes à enfrentada por seu pai.

Mas isso tem um custo. Muitos pacientes sob seus cuidados inevitavelmente não sobreviverão.

O questionamento da colega levou o Dr. Mark a repensar o próprio trabalho. Ele descobriu que bem mais da metade de seus pacientes morria em até dois anos após o diagnóstico de câncer avançado.

Para evitar a dor de tantas perdas, o médico se tornou um eterno otimista no consultório, em busca da quimioterapia “mágica”, ou qualquer maneira de conseguir mais alguns meses, apenas para ser emboscado pelo luto quando o paciente por fim morria.

Nos funerais — aos quais ele se esforçava para ir — o Dr. Mark não conseguia deixar de pensar: “Se eu tivesse feito melhor o meu trabalho, nenhum de nós estaria aqui”. Sua dor começou a se misturar com esse sentimento de culpa.

Isso se tornou um ciclo: negação envolta em otimismo, tristeza e depois uma culpa tóxica. O padrão se tornou insustentável para seus colegas. E sua parceira finalmente o criticou duramente por isso.

Poucas especialidades médicas aproximam tanto os médicos de seus pacientes quanto a oncologia. Os longos tratamentos, que duram anos, podem promover uma intimidade reconfortante para os pacientes e gratificante para os médicos. Mas essa proximidade também pode expor os médicos a uma dor lancinante quando a vida do paciente chega ao fim.

Os especialistas concordam que nada do que aprendem na faculdade de medicina os prepara para lidar com o luto decorrente da perda de pacientes. O Medscape conversou com cinco oncologistas sobre os limites nos quais eles confiam para sustentar suas carreiras.

Não vá aos funerais

O Dr. Don Dizon, especialista em tumores ginecológicos, estabeleceu uma regra fundamental há 20 anos: nunca ir aos funerais. Em seus primeiros dias no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, a morte de cada paciente era um golpe devastador. O médico ia aos funerais em busca do encerramento de um ciclo, mas isso só aumentava o peso da dor.

“Quando comecei a trabalhar com oncologia, lembro que os casos mais trágicos eram aqueles que eu estava tratando”, contou o Dr. Don, que agora é diretor do Pelvic Malignancies Program no Lifespan Cancer Institute em Lincoln nos Estados Unidos.

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