QUANTO MAIOR O APEGO AO QUE SE PERDE, MAIOR O SOFRIMENTO DO LUTO

Por Site Bragança Jornal Diário

 

É comum associar o luto à morte de alguém a quem se ama, pois a morte é o rompimento mais definitivo de um laço de amor que podemos viver.

No entanto, o processo de luto também se dá por outros motivos, como uma separação conjugal, a saída de um filho de casa para trabalhar ou estudar longe, a perda de um emprego, uma acusação injusta, o desaparecimento de um animal de estimação ou por diagnósticos de doença grave. Torcedores esportivos sofrem muito quando seu time perde uma final de campeonato, eleitores sofrem quando o candidato que mereceu o seu voto perde a eleição.

Ana Maria Dall’Agnese, psicóloga, explica que sentimentos como tristeza, desânimo, culpa, raiva, medo, ansiedade, dificuldade para dormir, acordar ou se concentrar, desinteresse pelas coisas cotidianas, choro repentino, falta de apetite ou comer em excesso, insegurança, pensamento recorrente a situação acontecida, são característicos do luto – e podem se transformar em um problema mais grave, quando se tornam intoleráveis, provocando muito sofrimento e um excesso de mal-estar na pessoa enlutada (isaude.med.br).

O recente feriado de Finados, como sempre, apresentou-nos a oportunidade de lidar com a perda de entes queridos. Milhões de pessoas que viram a partida repentina e inédita de amigos e parentes, por ocasião da recente pandemia, tiveram a oportunidade de dar um passo adiante em seu processo de luto. Esse dia inteiramente dedicado às pessoas já falecidas tem vários alcances. Possibilita homenagem aos que cuidaram de nós, aos que nos ajudaram em vários momentos de nossas vidas, aos que sempre nos trataram com carinho e aos que nos deram exemplos edificantes de vida. Esse dia também nos possibilita um momento de espiritualidade. Sob a ótica da fé Cristã, a morte corporal é a inauguração de vida eterna e abundante junto ao Deus da vida.

Nesta semana teve início um processo de luto generalizado. Pouco mais da metade dos eleitores celebram vitória na eleição para presidente da República, pouco menos da metade dos eleitores manifestam dificuldade em aceitar o resultado negativo. Essa é uma das características do luto: ele não afeta igualmente às pessoas envolvidas, mesmo quando afeta de forma semelhante as etapas do mesmo não são simultâneas para todos, alguns sofrem muito no início, outros sofrem silenciosamente ao longo de meses.

Destruir o presente não resulta em construção do futuro. A superação de uma derrota pessoal ou coletiva segue as etapas inerentes ao do luto. Vários autores concordam em pelo menos 5 etapas. Logo no início pode se manifestar o isolamento, uma espécie de defesa temporária, um para-choque que alivia o impacto da notícia, uma recursa em se confrontar com a situação.

Outra reação é a da raiva, acontece quando as pessoas saem da introspeção e começam a manifestar o sentimento da revolta. Neste caso, os indivíduos tornam-se por vezes agressivos. Há também a procura de culpados e questionamentos, tal como: “Por que?”, com o intuito de aliviar o imenso sofrimento.

Mais adiante, semanas ou meses depois, a aceitação vai se estabelecendo. Quando se chega a esse estágio, as pessoas lidam com seus sentimentos de forma serena. É o momento em que conseguem expressar de forma mais clara sentimentos, emoções, frustrações e dificuldades que as circundam. No caso da eleição, não há grandes perdedores, nem grandes vencedores. Estamos todos diante do enorme desafio de construir no dia a dia uma sociedade que tenha presente e futuro, desenvolvendo um país onde caibam todos os brasileiros. Na medida em que há diferentes formas de conceber esse projeto, o diálogo político se faz cada vez mais necessário.

Antonio Carlos de Almeida

almeida.45@hotmail.com

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