Autoaceitação e sexualidade são temas abordados na minha casa, isto é, conversamos o que é possível explicar para uma adolescente de 12 anos e uma criança de 4 anos. Tenho certeza de que esse livro é um legado para as minhas filhas. Quando puderem ler, entenderão sobre os ensinamentos ministrados por mim a elas ao longo de suas vidas. Os temas que envolvem a narrativa já serão conhecidos, e assim elas poderão experimentá-los dentro de um contexto literário. É importante as mulheres conhecerem suas inspirações na arte, na música, na dança, na literatura, na medicina e na filosofia. Saber que outras mulheres enfrentaram problemas parecidos, ajudam na superação e na busca por um espaço que já é nosso, mas que precisamos reforçar essa posse através das nossas atitudes e posicionamento diante da vida. Inclusive, durante muito tempo, acreditei que, para protegê-las, deveria lançar o livro com pseudônimo. Depois entendi que seria importante registrar minha obra com o meu nome, assim inspiraria as minhas filhas e outras mulheres também.
Nós ainda vivemos em uma sociedade bastante machista onde a mulher é constantemente julgada por suas atitudes, o que de certa forma acontece com a protagonista do seu livro, a Francesca. Como você acha que o modo como ela lida com as situações que lhe foram impostas podem ajudar outras mulheres a reagirem as tantas críticas que ainda sofremos?
Existem momentos desafiadores para Francesca no desenrolar dos capítulos. O fato de ser médica a colocou em um conflito interessante. Até onde posso deixar a minha emoção falar e quando preciso deixar que a ética domine a minha razão? Francesca indaga a sociedade, faz críticas sociais e se posiciona como uma mulher forte, evitando que o seu protagonismo seja subjugado pelos outros personagens. Em diversas situações, ela reflete sobre os seus conflitos, buscando formas de lidar com as críticas do mesmo modo que pondera os conselhos alheios para evitar sua ruína emocional. O dever dessa mulher não é levantar uma bandeira feminista, é fazer com que a sua voz não se cale diante dos imprevistos que surgem em sua vida. Sua intransigência, conforme a consideração de Dionísio, é um posicionamento. Caso um homem reagisse como Francesca, seria considerado como bem-sucedido? Então, por que ela não é vista dessa forma por seu parceiro?
No caso da literatura, uma de suas principais características é justamente conseguir nos levar para o universo submerso do próprio autor. Como foi o processo de conseguir passar para a escrita todos esses sentimentos que tinha naquele momento e o que essa obra significa pra sua vida hoje, depois de vê-la pronta?
Falar sobre o meu livro é muito importante. Antes de ele nascer, eu era a esposa do Rogerio e a mamãe da Desireé e da Chloe. Cursei diversas faculdades, mas nunca havia me identificado com nenhuma profissão. Acreditava que o meu modelo ideal era dentro de uma empresa, atrás de um computador. Relutei contra essa imposição durante anos. Por isso, superar o luto e descobrir a minha voz após essa experiência dolorosa, foi fundamental para exercer o meu papel na sociedade com prazer e responsabilidade. Ter uma profissão não nos torna potentes. O que nos torna protagonistas das nossas vidas, é fazer aquilo que nos abastece para inspirarmos outras pessoas. Cada palavra, cada poesia, cada obra de arte, cada música ou cada trecho de outros autores, descrito no livro, foi pensado com cuidado, para exaltar a feminilidade e as fortalezas da Francesca. Nenhum detalhe pode ser desprezado, pois criei enigmas que serão revelados em um segundo livro que já está em produção.
Pra qual público ou tipo de leitor você recomendaria o seu livro? Homens também podem aprender com mulheres e vice-versa?
A narrativa envolve cenas de sexo que não são aconselhadas a menores de 18 anos, então recomendaria para o público adulto. Homens e mulheres se identificarão com os personagens e poderão aprender algo com eles. A literatura tem o poder de tocar as pessoas, independentemente do gênero. Nenhum artista cria sua obra para agradar um nicho apenas. Claro que, em geral, algumas pessoas gostam mais de um estilo literário do que outras, mas isso não significa que o trabalho não possa ser apreciado pela diligência que foi desenvolvido. Alexandre, O Grande, foi uma inspiração para desenvolver o meu livro. Ele era um homem sensível que gostava da literatura e da arte, mas foi transformado em um estrategista para dominar territórios. Quem poderia imaginar que um homem que era um ativista bélico se inspirava em Homero?