Saindo do luto: como reinventar a vida após uma grande perda?

Por Dra. Aline Rangel – Psiquiatra

 

Se você já conheceu alguém que saiu do luto, sabe que a situação é complicada. Isso acontece especialmente se a perda foi muito significativa, como no caso de pais, irmãos ou filhos. O luto é uma fase que precisa ser respeitada, mas encarada: existe a percepção equivocada de que é necessário “cobrir” o luto, seguir com as obrigações como se algo não tivesse causado um abalo significativo nas estruturas psicológicas e, muitas vezes, na rotina do enlutado. A circunstância pode ter ainda um agravante: se a perda era esperada, como no caso de pessoas adoecidas, não há o fator “surpresa”. Porém, se a perda é abrupta, pode ser mais complexo aceitar a realidade. É hábito que façamos a divisão do luto em cinco fases. Nem todos passam por todos os estágios, é claro, mas essa é uma maneira didática de pensar sobre o processo de superação do ocorrido. Apenas depois de vivenciar o impacto da perda é possível prosseguir com as atividades de outrora e criar um novo rumo para a vida. Falaremos mais sobre as fases já citadas abaixo.

Saindo do luto: é preciso respeitar o seu tempo

Como já comentamos anteriormente, não é possível apressar o tempo de compreensão das coisas, nem mesmo sufocar os sentimentos oriundos de uma perda. Quando alguém esconde a sua dor sob algum vício ou prática, como o uso de medicamentos sem prescrição médica, entorpecentes ou compulsões diversas, não consegue superar o acontecido. Essas ações não permitem nem mesmo reinventar o “eu” diante de uma nova perspectiva de mundo. Por isso, é importante compreender que, mesmo doendo muito, o sentimento evolui para algo suportável. Entenda, a seguir, todas as fases do luto, até a superação da dor.

Fases do luto

Negação

Como o próprio nome sugere, trata-se do momento em que a pessoa, diante da perda, tenta negá-la. Ela acredita (ou deseja acreditar) que voltar ao passado é possível, que seguir a vida nos eixos anteriores ainda pode acontecer.

Raiva

Ao perder alguém que se ama, é natural buscar culpados. Para algumas pessoas, a morte não é uma novidade, mas as suas circunstâncias – ainda que em teoria – podem ser diferentes. Durante esta fase, há um sentimento de raiva pelos familiares, pelos médicos, pela própria pessoa falecida. Não raro, o paciente pode direcionar os sentimentos de raiva, juntamente com os sentimentos de culpa, para si mesmo.

Negociação

A percepção da perda já está instalada, mas ainda não é inteiramente compreendida. O indivíduo pensa em como poderia ter alterado o que aconteceu, nos momentos vividos com a pessoa, no que poderia ter sido.

Depressão

Não necessariamente é um quadro clínico, mas pode vir a ser. A perda manifesta-se em dor física e psicológica, podendo vir acompanhada de sentimentos de infelicidade, desesperança, fraqueza e cansaço.

Aceitação

Podemos dizer que as pessoas que estão saindo do luto estão nessa fase. Durante o período de aceitação, existe a dor da perda – para muitas pessoas, ela é uma realidade com a qual se deve lidar para sempre -, mas existe a compreensão de que as coisas não podem ser alteradas pela vontade de um indivíduo. Os sentimentos de culpa tendem a se dissipar, assim como a raiva pelo ocorrido. Pode haver tristeza, mas ela está mais atrelada à saudade de quem se foi.

Como passar pelo luto de forma saudável?

Encará-lo é o primeiro passo. Reforçamos o que já foi dito em outro parágrafo: não é possível superar a dor ou um trauma sem encará-lo e, de certa forma, “fazer as pazes” com ele. Quando a perda foi repentina e a pessoa está muito abalada, é mais do que recomendado que ela busque ajuda psiquiátrica e psicológica. Os medicamentos, assim como o ouvido treinado de um profissional, podem ajudá-la a retomar a sua vontade de viver e seguir em frente. É importante, por mais que seja difícil, buscar o apoio de familiares e amigos. O isolamento após a perda tende a ser negativo, uma vez que os pensamentos invasivos podem sugerir um quadro de solidão (mesmo quando a pessoa possui uma rede de apoio). Dar vazão aos sentimentos é uma boa forma de deixar o luto acontecer. Permita-se sentir e compreenda, ainda que não seja fácil, que a vida agora deve ser percorrida de outra forma. Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!

 

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